Ainda me lembro das Barbies espalhadas pelo chão. Das brincadeiras inventadas nas ruas, dos tombos de bicicleta, da franjinha encaracolada que minha mãe teimava em me fazer usar. Da historinha do "Natal dos Serelepes" que ela lia pra mim antes de dormir. Do cheiro de bolo de chocolate se espalhando pela casa.
Eu, criança, a menorzinha da classe, amava alimentar as bonecas quando podíamos levar brinquedos à escola. Dividia minha merenda com elas. Minhas amigas. Minha infância.
Inventava brincadeiras, descalça, correndo pelo quintal, por todo espaço que me dessem. E todos aderiam. Inventei a brincadeira do "Cacto", a da "Nega maluca", e mais umas quinhentas outras que eu nem me lembro mais. Não gostava de pega-pega. Só sei que me divertia muito!
Roubava flores do jardim em frente à casa da vizinha. Subia em árvore. Nadava em rio. Fazia caretas pro espelho. Lia gibi da Magali. Assistia a Doug Funnie e TV Colosso, além de 50 vezes por semana ao filme da Bela e a Fera. Comia bolinho de chuva e saía correndo.
Mas daí... daí eu tive que crescer. Me lembro de como tudo era simples. Hoje, a vida traz o que antes não esperávamos: responsabilidades. Força-se a maturidade quando tudo ainda é tão verde...
Esquecemo-nos de que, algumas vezes, se agirmos como crianças e deixarmos de lado as preocupações e a velha mania de "o dever nos chama", as coisas se tornarão mais simples. Não que a maturidade e os deveres devam ser deturpados. Mas a infância nos remete à riqueza de alma, ao descanso, à pureza, e à essencialidade de ser como realmente somos: eternas crianças.