sábado, 25 de dezembro de 2010

Uma grandessíssima bobagem

Tornar-me uma marca na vida das pessoas tornou-se minha mais recente obsessão.

Não estou falando de me tornar um Gandhi, nem de fazer o mundo todo chorar com minhas músicas no aniversário de minha morte. Ok, talvez a última ideia fosse bem comovente. Mas tornar-se uma marca não se limita a isso. É algo que a gente não sabe como, nem entende bem como funciona ou como isso vai acontecer, mas a gente, simplesmente, se torna aquilo. Sem perceber.

Ou, talvez, a gente precise passar por uma certa mudança. Se continuarmos em nosso cômodo individualismo, nesse ostracismo confortável e inerte, é meio impossível que as coisas aconteçam. Qualquer coisa. É tão mais seguro e deliciosamente comum fazer apenas o que estamos acostumados a fazer, falar apenas com quem costumamos falar, ou, simplesmente, não falar com ninguém. Ninguém sai ferido, ninguém precisa pedir perdão. Ninguém sai de casa, ninguém morre atropelado, nem é assaltado. Ninguém anda descalço, pra não pegar resfriado ou tropeçar numa pedra. Ninguém come chocolate demais, pra não ter dor de barriga, nem engordar.

E a vida passa, e passa, e passa. E termina do jeito que deveria terminar: a lápide, as cinzas e os ossos debaixo da terra. Fim de jogo. Pode ir pra casa, agora.

Ninguém te notou. Meia dúzia de pessoas chorou sua morte - o que, veja bem, é diferente de sentir sua falta, e não significa que o fatal fato vá fazer alguma diferença. A vida continua, com ou sem você. Não que não devesse ser assim. Mas o mundo, a sorte e o destino continuam seguindo seu curso. Não, você não fez, nem faz, nem fará a menor diferença. Tarde demais.

Ah, o destino. O destino que você não desafiou. Conformou-se a ele, apenas. "Deixa a vida me levar!". Será? Será que, se você não tivesse feito um pouco de esforço para que as coisas mudassem, não para você, mas para a vida dos que você ama, ou dos seus inimigos, ou dos que você nem conhece, ou dos que sofrem, ou dos que não sentem nada (como você), as coisas não teriam sido mais extraordinárias?

Falar é fácil, e minhas palavras são bonitas. Mas minhas mãos são estéreis.

Você já viu um milagre? Eu já.

Mas e se você fosse o milagre?

Sem demagogia, sem lição de moral. Se você não quiser, eu quero. Não quero passar pela vida sem ser lembrada para sempre, para dizer o mínimo. Ser lembrada por pessoas que virão depois de mim, depois das que me conheceram, que me farão conhecida por meio da falta que farei. Não sou melhor do que ninguém, nem mais especial, muito menos merecedora disso. Não falo de glória. Quero dar frutos, que darão sementes, que formarão uma floresta.

Quero ser uma epidemia. A cura do câncer da alma. Quero ser a dor e o perdão. Quero ser a voz, o grito. Quero ser a mão amiga, o disparo do coração, o choro, o susto. Quero te fazer cantar. Quero que você pare, de uma vez por todas, de ficar aí parado. Quero ser o tomate esmagado na cara do político. Quero ser o raio de sol que incomoda o teu sono, que interrompe o teu escuro, que te cega. Quero desafiar as leis da Física. Quero chover, trovejar, florescer e nascer de novo.

Eu só quero conseguir salvar uma vida. Uma alma vale mais do que o mundo inteiro.

Só quero aquilo que me disseram que não posso. Eu quero o sonho de Martin Luther King, de Gandhi, de Lennon, de Joana D'Arc. Só quero provar que a Humanidade ainda vale a pena.

Eu quero liderar um exército de loucos.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Balanço geral

2010 foi um ano estranho. Difícil. Mas incrivelmente surpreendente. E bom.

Descobri que não estou sempre certa, e que as pessoas não precisam concordar comigo naqueles dias em que o café está um pouco amargo, e que meu gênio está ruim. Tomei decisões por mim mesma. Contrariei o óbvio, andei descalça, desconfiei do meu extremismo. Aprendi a ser mais humana, a entender meus erros. Já pedi muito perdão por pecado que não cometi. Agora, sei que ser humano traz um pouquinho de saúde e cor às bochechas. Perdi amizades, ganhei amizades, fortaleci amizades - algumas até se transformaram. Reencontrei, desencontrei, apaixonei, desapaixonei. Fiquei a ver navios, mas, como já estava na beira da praia, aproveitei para lavar os pés.

Entendi que podemos, mesmo, esperar tudo das pessoas. E nada. Estudei como nunca, dancei como nunca, chorei como nunca, ri como nunca. Cantei - tão cruel, tão doce, tão anjo e tão águia. Achei que tinha as respostas, mas, quando dei por mim, só havia mais perguntas. Troquei noites por dias, luas por sóis, amanheci, anoiteci. Mandei muitas cartas. Fiz mais declarações de amor aos amigos mais caros. Tomei banhos de chuva, deixei o cabelo crescer, cheguei nos vinte e - caramba, será que agora sou uma mulher de verdade? Escrevi mais - e menos. Deixei vocês esperando. Li poucos livros legais, e criei mil histórias que não escrevi. Olhei nos olhos, deixei-me encantar. Meu coração ardeu, partiu-se, restaurou-se. Ouvi a voz da Razão, segurei na mão de Deus. Toquei mais violão.

Enfim, nada saiu como planejei. Mas tudo saiu melhor do que eu jamais esperaria. Ainda estou tentando entender o que foi 2010. E não posso evitar pensar no que 2011 se tornará.

Feliz Ano Novo. Surpresa, surpresa, surpresa.

***
Gente, é provável que, em breve, o blog passe por algumas mudanças para o ano que vem. Prometo que farei o possível para voltar atualizá-lo frequentemente. Lá vem coisa boa! Vocês vão gostar! Tenham um pouco mais de paciência.

Feliz 2011, e venha o que vier!

domingo, 21 de novembro de 2010

Vilania

Saudade de te arranhar-céu
Caindo em tentação
Ou não
Surrupiando beijos
Arrepiando, nem um pio
Famintos
Lábios lambidos

E, com os mesmos lábios
Eu invento uma desculpa
Te peço perdão
A mesma desculpa
Aos farrapos
Aos disparos
Disparate

Saudade de te doer
De te ferir
Só pra eu me sentir
(teu bem, tão bem)
Do feito ao malfeito,
Amor rarefeito, desfeito
Num beijo de segundo

E, se eu te arranhar-céu
Não se arrepie - piedade!
Nem um pio, nem pão, nem água
Nem mais beijo, nem coisa qualquer
E eu me deixo escorregar,
Até me esborrachar no chão.

Não quero me prender,
Eu quero é te perder,
Só assim pra eu aprender
A deixar de ser ruim.

domingo, 14 de novembro de 2010

Meu amigo ruivo

Ele é daquele tipo de cara que sabe fazer ar de mistério. E que, por tanto tempo, eu subestimei.

Eu queria beijá-lo infinitamente ao som de ACDC, ou qualquer som ou rock'n'roll que combinasse com os arrepios e a aventura do momento. Desconstruí-lo por todos os avessos, entorpecê-lo com qualquer travessura lolítica. Qualquer coisa que continuasse me intrigando, e me impedindo de pensar ou de raciocinar direito, como naquele momento.

Não que eu soubesse bem como fui parar ali. As coisas aconteceram muito devagar, ao mesmo tempo que tão repentinamente. E ali estávamos - o beijo inesperado. A iniciativa foi dele, a surpresa foi minha.

A reação? Foi mútua.

E a gente não sabe bem como as coisas fugiram tanto ao nosso controle. Ele me segurava forte pela cintura, minhas mãos estavam firmes, cravadas na gola da sua jaqueta. Romance? Nenhum, nenhum, nenhum. Éramos amigos de longa data que perderam a noção do perigo e de como as coisas deviam ser. Inconsequentes por causa de uma traquinagem, desmedidos, alheios ao resto do mundo e da situação. As luzes dos postes e o ar da madrugada nos bastavam.

Não que soubéssemos bem o que estávamos fazendo, nem por que estávamos fazendo. O beijo explosivo, ruivo, avassalador, entrecortado por risos tímidos. A confusão do momento. Um turbilhão de pensamentos que se esvaía, borrado, em meio às sensações.

Mas ser bom só enquanto durou não faz bem o meu tipo de aventura.

"E aí, quando a gente vai se ver de novo?"

sábado, 6 de novembro de 2010

Inércia

A gente quer desistir e não consegue.

É que dá medo de viver morrendo por aí, deixando a vida passar. Ou achar que quem vive mais é quem tem mais fotos no Orkut, é quem não para em casa, é quem não perde uma festa... A gente se esquece do quanto tudo é tão superficial.

Se você vive bem com a ideia de ser só mais um, tudo bem. Pois eu não consigo. Me formar, ganhar uma grana, me casar e ter filhos, fim. Só isso? E o que vem depois do "felizes para sempre"? Ninguém me respondeu ainda. A gente não se surpreende mais.

E tem os erros que precisamos cometer, porque, se não provarmos o gosto do veneno, não saberemos qual será a dor, nem se ela vale a pena. Pode não ser a melhor escolha, mas, às vezes, é a única que nos vem à cabeça.

Não é medo, é inércia. A vida pedindo pra ser sacudida. Pra ser pega pela cintura de surpresa, fazendo arrepiar o corpo inteiro. É esse o sentido da emoção: a vida pede paixão.

Mas é tão mais fácil ficar aqui e dormir...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

E eu,


Eu só queria umas mil vidas, só pra morrer de desejo a cada pulsar do seu peito.

Eu quero morrer é de amor, só pra poder me sentir viva de novo.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Criança

Saudade dos pés descalços, dos desenhos animados, do tempo em que o SBT e a Eliana era bons, de brincar de Barbie até a mãe mandar dormir, do Kinder Ovo baratinho, de comemorar os dentes que caem e as "janelinhas" que vão aparecendo, da franjinha sem-noção que a mãe acha linda, de chuquinhas coloridas, do tamanco da Xuxa em suas mais diversas cores, formas, plásticos e borrachas, de pintar aquarela com tinta de "estojão" e crayons, de quando meu maior medo era o tal do "homem do saco", de ser a única criança na cidade que sabia que Papai Noel não existia, de sujar os pés correndo por aí, de pular elástico no intervalo, dos guarda-chuvas de chocolate e dos pirocópteros, de comer macarrão gravatinha na merenda escolar, do meu boneco Fofão (sim, eu tinha um e ADORAVA!), de amar o Pernalonga, de assistir 16212613412 vezes as fitas das Princesas Disney, do corre-corre, dos bilhetes recorrentes da professora me implorando para melhorar a letra, das despreocupações e das mil brincadeiras possíveis e imagináveis, das cores mais brilhantes e dos sorrisos exagerados, arreganhados.

Saudade de quando imaginar e brincar eram tudo o que me restava a fazer.

domingo, 10 de outubro de 2010

Rótulos

E, pra falar bem a verdade, a gente recebe rótulos que não pediu, na maioria das vezes.

É por isso que entendo a Sandy, por exemplo. Todo mundo aproveita que a menina é "santa", só pra poder pregá-la na cruz. Mas "santa"? "Santa" pra quem, e por quê? O que foi que ela fez pra ser "canonizada"?

Isso me irrita. E me surpreendi quando, essa semana, uma pessoa que mal me conhece me disse: "Nossa, nunca pensei que uma menina tão tímida e quietinha quanto você fosse aquela pessoa no palco!". Tá certo que a pessoa não falou por mal; mas "tímida e quietinha"? Dei um desconto, porque a pessoa realmente não me conhece direito.

Nada contra pessoas "tímidas e quietinhas", que fique claro. Mas tudo contra essa mania besta de rotular as pessoas.

E aí a gente é rotulado por causa de coisas como aparências e estereótipos. Talvez porque uma hippie magrelinha aparentando cinco anos a menos de sua idade não possa ter lá muita coisa pra dizer. E ri alto uma vez quando me disseram: "Nossa, você gosta de rock? Mas você não usa preto!". É; também gosto de falar de sexo, mas não sou perva; gosto de falar de política, mas não votei; gosto de cores, mas não de Restart; sou cristã, mas também pecadora; nasci em Londres, mas sou brasileira.

E daí? O quê, ou quem você pensa que eu sou?

É, os estereótipos estão aí, e são mais fortes do que a gente. A primeira impressão continua sendo nossa única história e tudo o que temos a dizer a respeito de algo ou alguém. E, se resolvo contrariar meus rótulos e dizer o que penso, é um deus-nos-acuda. Tá certo que, às vezes, eu deveria pensar um pouco mais antes de falar, mas é o meu jeito. Já estou me acostumando com os olhos arregalados a cada nova declaração.

Não que eu ache isso bonito. Porque sempre há rebeldes sem causa, que fazem de tudo para chocar/ se destacar /etc. Isso é o que, na minha terra, a gente costuma chamar de "forçar a amizade". Porque cofre cheio não faz barulho, e, se realmente somos tudo aquilo que dizemos ser, não deixaremos de sê-lo por causa de um rótulo idiota. Aliás: quando se tem personalidade, tudo aquilo que somos ultrapassa todo e qualquer rótulo ou estereótipo.

Pensei em dizer a vocês e aos rotuladores de plantão quem sou for real, mas não sei se vale a pena. Quem quiser, que me conheça. E a gente se revela pra quem faz valer a pena. E não faz esforço pra contrariar quem nos rotula.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Merchan!

Galera, vou fazer um merchanzinho básico!

Ontem cantei no Concerto de Primavera, no Teatro do SESI de São José do Rio Preto. O tema foi "Adoniran Barbosa e Beatles: Retratos de um tempo". O evento contou com a participação do Coral Unesp de Rio Preto, que é maravilhoso, e com grupos de violões e dança da facul. Foi incrível!

Cantei três músicas dos Beatles, enquanto alguns professores e mais um aluno da facul tocavam. Apesar de só termos ensaiado duas vezes pra valer, valeu super e deu tudo certo na hora. Subir no palco sempre faz bem, sempre!

Enfim, deixo os vídeos pra vocês assistirem e divulgarem moooito! O áudio não tá "aquelas" coisas, mas tá valendo. Espero que gostem!

Um abraço!






terça-feira, 5 de outubro de 2010

Tanto faz

Preciso de mais tempo para ler, mais tempo para amar, mais tempo para desperdiçar nas horas de preguiça.

Quero o prazer de chamar atenção para um par de ombros sensuais, para um cacho que dança perdido no meio das costas, para a cor nova do batom. Me nota? Sem me corrigir o pronome, vai.

E, se eu me enlaço nos lenços e laços de fita, tudo o que quero na verdade é me enlaçar entre lençóis. Pura preguiça, ou pura carência de amor? Alguém para ninar e amar, ou ninguém por perto, porta fechada e sono profundo.

Não sei bem o que quero. Só quero uma sugestão. Ou, se eu por acaso souber, só quero que me faça mudar de ideia. Proposta indecorosa, ou nada de especial. Algo que não seja rotina, ou a rotina de um amor qualquer. Tanto faz, para quem já é tão indecisa...

Quem sabe enroscar os dedos nos teus cabelos, ou me enroscar num canto qualquer. Cair na cama, cair na cova do teu sorriso. Morrer de amor ou de tédio. Perder o juízo ou o sentido, cair de cara ou de costas. Coisas que não têm muito a ver têm muito mais a ver comigo.

E, se só os loucos sabem, deixo tudo ser relativo. Amor pós-moderno, paixão de quarto de hora, entrelinhas de lábios entreabertos. Me deixa, e deixa tudo como está. A gente se vira, ou fica na mesma. Tanto faz.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

VÍCIO

[vício]

ROCK. MANTEIGA DE AMENDOIM E GELEIA. BIJOUTERIA. ESMALTE. TWITTER. VIOLÃO. MÚSICA, MÚSICA, MÚSICA. INGLÊS. VESTIDO. PALAVRA. POESIA. AMIZADE OU SOLIDÃO (tanto faz, o que eu quiser). DESENHO. RABISCO. COR. FLOR, ESTRELA, CORAÇÃO. BORBOLETA. MELANCIA. ESTAMPA. BATOM. CACHO. VERÃO. LUA. NOITE. CAMA. DANÇA. SORRISO. FOCINHO DE CACHORRO. LIVRO. BANHO FRIO. BELEZA. DIVERSÃO. MODA. CHOCOLATE. CANETA COLORIDA. AGENDA. BLOG. MEIA-CALÇA. BICHO. CÉU (azul ou cinza). PENSAMENTO. SILÊNCIO OU SOM (sempre o que eu quiser). VENTO. ARREPIO. BANHO DE CHUVA.

[não você. não ainda]

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

00:00

Às vezes, o blues é necessário.

Assim como a guitarra, o vento, o beijo na testa e mensagens suas no celular me fazem sentir um pouco menos deste mundo, um pouco mais do céu, do infinito, do mistério.

Quando sinto cantar o sol, é de você que eu me lembro. E também quando as horas e os minutos são iguais.

Às vezes, só às vezes, eu te queria o tempo todo, só por mais um pouco menos de perda de tempo, enquanto me deixo perder no espaço sideral entre seus lábios, no céu da sua boca.

O tempo parou.

E o blues, a todo vapor, virou música toda-cor.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

À tardinha


Gosto de parar no caminho para comer amoras frescas do pé da rua. Gosto de andar descalça. Banho frio, banho de chuva, banho de rio. Sol. Pele estampada de flor, cheiro de pele e de doce. Música. Listras. Gosto de cores. Os vestidos, os sorrisos, os desenhos e o céu (cinza-londrino ou azul-calcinha). E arco-íris. E de correr para chegar em casa. Gente fina. Conversas. Eu gosto é da amizade. Gosto de saber, e perguntar, e entender.

Mas sabe do que gosto mais?

Gosto de ler nos seus olhos o gosto que tenho em seu beijo.

sábado, 11 de setembro de 2010

Teenage Dream

[Vamos ver. Vinte anos. Uma faculdade quase terminada. Morando fora de casa. Dona do seu nariz (ou não). Cabelos quase na cintura. Cinco idiomas, fluente em três. Blogueira. Chata, acredite. Ou, como disse a @flovis uma vez, "a felicidade em forma de gente".

Sei lá. Não sou muito boa em auto-definições.]

Cada vez em que fico mais velha, começo a pensar um milhão de coisas.

Como, por exemplo, nas responsabilidades que a idade vai exigindo da gente. Estou saindo dos teen e entrando nos ty. Acabou a adolescência, e ainda não me conformei muito bem com isso. Porque, aos vinte anos, teoricamente, pressupõe-se que você já tenha se tornado uma mulher feita. E não sei bem o que é isso. Mulher feita, pra mim, é minha mãe. Mas e eu? Sabe que ainda não engoli bem a ideia?

Sem querer cair no clichê de menina-mulher, longe de mim. Nem dar uma de peterpanmaníaca, ou cantar aquela música dos Ramones, "I don't wanna grow up". Tá certo que, no fundo, isso aí é tudo verdade. E, apesar de sempre ter sido madura para minha idade, há coisas em mim que não mudam nunca. Como balançar a cabeça freneticamente enquanto ouço música, ou fazer o melhor brigadeiro ever, ou passar o dia de pijama, ou falar o que me der na cabeça (e chocar pessoas since 1990), ou amar Os Simpsons, Tom and Jerry, Vila Sésamo.

Aliás, acho mesmo é que nasci para ser adolescente. Desde criança, sempre quis ser adolescente. Aos onze, já me achava o máximo por me auto-intitular "pré-adolescente". Mas, aos treze, ainda brincava de Barbie escondido e não tinha dado um beijo na boca. E, agora, com apenas umas duas horas de dezenove, agarro-me ao último fio de adolescência. Tenho medo de perder a vontade de me vestir como me visto, de trocar as meias listradas e as saias hippie por roupas caretas de trabalhar sério. Não que eu não queira trabalhar sério. Ah, bem, vocês entenderam.

Não faço a menor ideia do que pensar de agora em diante. Acho que vou deixar as coisas do jeito que estão, e viver como sempre vivi. É o mais sensato, ou o mais insano a se fazer. Uma mulher não se faz da noite para o dia. Aliás, nem em vinte anos. Acho que vou precisar de mais uns trinta, pelo menos, pra virar a tal da mulher feita. Ou não. Há quem não consiga nem em mil anos. E quem se importa? As coisas não são como nos filmes, e mesmo os mais xiitas não dão conta de seguir os mesmos padrões de sempre.

Por isso, como diz Katy Perry: vou esticar o meu Teenage Dream por mais um pouquinho. Mais uns trinta anos, quem sabe. Ninguém sabe. Nunca se sabe. E não quero saber.

Vinte vivas a mim. Ou uma tortada na cara, que já está de bom tamanho. Com chantilly, por favor.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

One, two, three.


Aniversários são uma coisa engraçada. Principalmente quando os "parabéns" vêm bem atrasados.

Tá certo, eu estava viajando. Mas o Rosas Inglesas completou três anos anteontem! Dá pra acreditar?

Pois é. Nem eu acredito. Vocês já sabem como resolvi começar essa coisa de plantar rosas, escrever, ou sei lá o que. Não dá bem pra definir o que faço aqui. Acho que é um tipo de viagem, ou alguma fantasia oculta do inconsciente que tento concretizar em palavras (Freud explica. Ou não). Só sei que já tentei largar isso aqui um milhão de vezes, seja por falta de tempo, de juízo, de palavras e criatividade, ou, sinceramente, por achar vocês, leitores, meus ladrões de rosas favoritos, tão quietinhos.

Mas acho que não tenho tão pouco juízo assim pra largar uma história de três anos. Estou quase me formando, e lembro-me de que comecei essa mania de rosas e palavras cobertas de açúcar e limão e arco-íris no colegial.

Enfim, ou é um blog legal, ou um blog ruim que já passou do ponto. Se for a segunda opção, prefiro acreditar naquela história de que "vaso ruim não quebra". Né, Ronaldo Ésper? -N

Feliz aniversário. O bolo é pra vocês.

sábado, 28 de agosto de 2010

BOOM!

Às vezes, minha vida parece uma bomba-relógio. Mil contagens regressivas, até eu mandar tudo para o espaço.

Contagem regressiva para ir para casa.

Contagem regressiva para o meu aniversário.

Contagem regressiva para o show do Switchfoot.

Contagem regressiva para o fim do semestre.

Contagem regressiva para a formatura.

Contagem regressiva para ir embora.

E o que mais? Às vezes, a vida dá medo. A gente não sabe bem o que virá depois da bomba.

E, quando a vida é sua, você não pode correr. Você não pode fugir.

Porque, se a contagem fosse progressiva, talvez o fim viesse primeiro, e, depois, desse para começar tudo de novo.

É que, às vezes, eu bem que queria um recomeço.

Nem precisa comentar. Não faço sentido.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Oito e oitenta.

Preciso de algo que me faça perder a hora.

Mais do que beijo de cinco minutos, mais do que uma noite na pista de dança, mais do que perder o controle com um violão nas mãos, mais do que mexer no cabelo de alguém.

Preciso descobrir a América e inventar a roda. Ou, quem sabe, me reinventar.

Todo mundo sabe que lugar de louco é na revolução. E louco que se preze sabe se fazer ouvir. Porque louco maior ainda é o acomodado. E a razão nem sempre é a melhor saída.

Cansei de oito ou oitenta. Cansei de escolher.

Porque, às vezes, o meio-termo é menos óbvio e mais eficaz.

Por favor, não me dêem ouvidos. Sou um falso Picasso na fase rosa-azul. É loucura, e muito mais complicado do que se pode imaginar.

Porque o complicado me intriga, e o não-óbvio me faz bem.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Caro desconhecido,

Não sei grande coisa sobre a vida. Sobre política, sobre futebol, sobre o clima. Se quer saber, não tô nem aí pra paçoca.

Não sei grande coisa sobre você. Mas de uma coisa eu sei:

você me bota maluca quando bota aqueles óculos.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Bilhete


Tive um sonho noite passada.

Eu estava de volta ao colegial, à velha escola onde estudara.

Outro dia, outra manhã; as mesmas coisas de sempre, o mesmo lugar onde costumava me sentar, a lousa suja de giz.

Foi quando recebi um bilhete muito pequeno, dobrado cuidadosamente em papel dourado.

E, quando abro, leio o que se tornou um mistério para mim:


“Descobri que você estava certa, e admito: TE AMO, apesar desse teu jeito.”


“Apesar desse teu jeito”. Apesar da ironia daquela frase. Apesar da verdade daquele “TE AMO”. Apesar de aquele “TE AMO” ter vindo cedo demais. Apesar de eu não ter entendido nada, e de achar aquilo tudo um absurdo. “Certa” de quê? Apesar daquela estranha surpresa vinda não se sabe de onde, de alguém que não pertencia àquele lugar, de alguém que estava longe demais para fazer qualquer declaração.

Estremeci. Por alguma razão (e, veja bem, não sei por que razão), eu soube, naquele instante, que aquilo era o que havia esperado a vida toda. E o que, no mundo real, ainda espero.

Acordei com aquelas palavras, que ainda ressoam com o peso de uma verdade em mim. Apesar de mim, alguém me ama, afinal. Apesar desse meu jeito, meus defeitos, e das circunstâncias. É um tipo de amor que não mereço; por isso, vale mais. Esse tipo de amor, a gente não entende.

E já não faço a menor questão de entender. Sou amada; nada mais importa, nada mais se explica.

sábado, 14 de agosto de 2010

Furta-cor



Texto baseado no clipe "Dare you to move", Switchfoot

Estavam os dois, deitados na grama.

Dezesseis anos, vizinhos. Tão iguais, tão loiros de olhos claros. A tarde caía, e as nuvens tingiam o céu de um tom engraçado, furta-cor, preguiçoso e indefinido.

Embora se conhecessem tão bem e há tanto tempo, de uns tempos para cá, começaram a sentir vergonha um do outro. A não saber bem o que dizer. A sentir o rosto arder de forma estranha só de pensarem um no outro. Sim, aquilo era estranho. Mesmo assim, continuavam amigos. Continuavam a se encontrar todas as sextas-feiras, ao cair da tarde, no gramado do parque.

Mas, naquele dia, ele sentiu que precisava entender o que se passava.

Lado a lado, estendidos na grama. Falando de sonhos e coisas corriqueiras. E, quando as palavras faltavam, ela sorria.

Ele precisava se mover. Precisava tomar uma atitude, de uma vez por todas. Até quando iria esperar? E se a vida passasse, ou algo os separasse antes que ele tivesse tentado?

E, enquanto observavam o céu em silêncio, deslizou a mão pela grama, tão delicadamente, que ela nada percebeu, até sentir sua mão sendo tocada de leve pelas pontas dos dedos dele. Ela, paralisada, não sentiu a menor vontade de recuar. O sorriso ainda estava ali; o coração, não se sabe mais onde; a cabeça deve ter se perdido em algum lugar do espaço.

E foi assim que, ao surgir da primeira estrela céu, duas mãos finalmente se entrelaçaram.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Cansei desse planeta.

É, é isso: cansei desse planeta. Quero criar um novo. Aliás, sempre quis. Como isso ainda não é possível, criei um blog. Ou melhor, um canteiro de rosas. E, a cada vez que venho aqui, me esqueço de tudo o que pensei em escrever antes. E, mesmo que fosse capaz de me lembrar, minhas mãos não permitiriam que eu dissesse nada além do que elas disserem por mim.

Quando venho aqui, também me esqueço de que há um mundo lá fora. Na verdade, eu até me lembro, mas sinto como se as cores estivessem cobertas por papel celofane, ou como se eu olhasse através de um espelho d'água - meu reflexo embaçado, minha identidade apagada. A atrevida inventora de textos guarda a menina doidinha no bolso e vai viver, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Mas que, na verdade, é um absurdo. É um abuso.

Mas a inventora de textos não pede muita licença, não. A menina tem mais o que fazer da vida além de vir aqui regar as rosas. A inventora tem pressa; as rosas têm sede. A menina que espere, a curiosidade que se sacie, as rosas que se deliciem o quanto quiserem.

Sei que não deveria estar aqui.

Sei que as vozes chatas do tempo perdido e das obrigações me chamam.

As inseguranças, as mil-e-uma possibilidades de futuro. Ou, tão-somente, o medo de não poder escolher.

O medo de ser escolhida.

E quem, ou o que me escolheria?

Para que me escolheriam?

Tanta gente não tem escolha. Mas e se a escolha fosse eu?

Qual o jeito certo de se medir o futuro? Minutos, segundos, etapas, dias, anos, conquistas, ações? E o tempo, como medi-lo? Relógio, calendário, passos na areia, batidas de coração, gotas de suor, pensamentos, rugas? E os sonhos? Se medem por sorrisos, lágrimas, indagações, questionamentos, possibilidades?

Se pudesse escolher, escolheria um planeta novo.

Depois de todos os meus questionamentos, penso que mereço chegar em casa. Penso que mereço um planeta e todas as suas estrelas. Penso que quero apanhar todas as gotas de chuva e todos os flocos de neve com a língua, recolher as nuvens e vestir os dias azulados. Penso que os sóis e as luas, assim, todos juntos, ficariam muito bonitos no cabelo, e que o pó do céu faz os olhos mudarem de cor.

Eu quero criar meu próprio universo. Não, eu não pertenço a este lugar.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Coisa de menino

Chegou em casa, na ponta do pé. O coração ainda pulava para fora do peito, as borboletas forravam-lhe o estômago, o suor escorria. Não sabia se tinha feito certo. Não sabia se devia ter esperado. Não sabia se era certo, se era errado. Só sabia que era bom.

Cansado de novelas, e filmes, e histórias que as pessoas contam, decidiu descobrir por si mesmo qual era a graça.

Mas, apesar de todo o nervosismo, voltara para casa numa nuvem. Porque foi bom. Foi estranho, depois foi quente, depois foi bom. E continuou sendo bom. E foi a coisa mais absurda que já lhe havia acontecido.

E, por isso, estava se sentindo tão homenzinho. Seguiu direto para o banheiro, roubou a lâmina do pai e se barbeou.

Afinal, já tinha doze anos e tinha acabado de beijar na boca.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Nada demais.

Chuva e frio, esmalte azul. Uma vontade de mudar o mundo de repente. E coisas que ainda estão por vir.

Ontem, hoje e amanhã. Coisas que esqueço de escrever. Amigos, corações, vidas transformadas, loucura. Palavras, imaginação, surpresa, epifania. Futuro. Dúvidas, suposições e esperanças. Correria, sacrifício, gente nova, gente velha. Gente. Música. O show que nunca chega. A vontade de te conhecer um pouquinho mais a fundo, a vontade de me convencer. Lembranças engraçadas, vitórias e aprendizados. Amigos. Grandes amigos. Pessoas que aprendi a admirar. Circunstâncias. Imaginação.

E, com tudo isso (mais do que tudo isso), uma enorme gratidão.

Não é pra fazer sentido. Nunca foi, nunca será.

A gente só sabe o que a gente sente. De resto, não sei de mais nada. Nem preciso saber.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Humpf.


Gosto ainda mais de sorvete no inverno. E gosto das coisas mais complicadas do que realmente são. Gosto do inverso e do avesso, do fluorescente. Do cheiro das coisas, do cheiro de casa. Gosto da temperatura do focinho da poodle. De ser pega pela cintura. Do cabelo dele todo bagunçado. Gosto ainda mais de sua jaqueta de couro, de sua cara de mau. Gosto do que não consigo decifrar direito. Acho isso tudo um grande absurdo. Mas eu gosto. Eu gosto de meias listradas, de cubos de gelo, de solos de guitarra. Ficar de pijama, largada na cama, sonhando bobagens sem sentido.

E esse texto... não faz o menor sentido. E eu, por acaso, faço? E era pra fazer?

Só porque gosto ainda mais de sorvete no inverno, ainda tenho que ficar dando explicações. Humpf.

sábado, 10 de julho de 2010

Borboleta


Gostava de brincar sozinha na casinha azul. Fazia mundos de saia-rodada, cabelos-cachinhos, a flor no cabelo, o batom. Brincar de ser mulher, nos saltos de sua mãe. Só não gostava muito de rosa. O azul lhe parecia muito mais atraente, interessante, misterioso e doce. Algo um pouco menos óbvio.

Queria ser bailarina, princesa e veterinária. Uma menina típica. Se bem que, às vezes, punha-se a pensar que, se fosse astronauta, talvez conquistasse algo mais do que o mundo. E tinha o pianinho de madeira, suas sinfonias desafinadas, a plateia de bonecas, atônitas, estáticas. Talvez sorrissem por dentro. Ninguém entende as bonecas. Ninguém sabe o que elas aprontam quando não se está perto. Ou o que pensam das meninas.

Gostava dos livros. Mais das palavras do que das gravuras, sempre. Tinha mais do que apenas cinco anos de idade: era esperta e madura, mas não menos criança por isso. Gostava de contradizer-se o tempo todo, apesar de sua personalidade forte. Teimosa que só. Queria as unhas vermelhas da mãe, queria o pai. Gostava de espelhos, dançava sem saber. Suja de bolo, agora descalça. Lambendo os dedos, estudando o desenho que a borboleta fazia no ar.

"A borboleta é azul".

E tanto filosofou, rostinho sério, olhos graves, cuidadosos, que descobriu que feliz era a borboleta. Podia ser o que quisesse: fada, princesa, bailarina, astronauta, pétala de flor. Podia ter cor de céu. Ter cor de azul. Desaparecer no ar, num vôo de brisa, silenciosamente.

E decidiu que, quando crescesse, queria era ser borboleta.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Prometo.

Cada vez mais, entendo menos das coisas.

É verdade. Porque tenho aquela velha mania de prometer e dizer coisas no auge do momento para, depois, me arrepender. Por preguiça. Ou por ter sido coisa de momento, oras. Mas, se penso mil vezes e não prometo coisa nenhuma, me vem aquela velha pergunta.

"E o valor que se dá às pessoas?"

Às vezes, eu só quero é que se dane, e acho pouco. Aquele egoísmo carnal de todo ser humano. Momento, momento. Prefiro ficar jogada na cama, ouvindo Oasis e pensando na vida. Prefiro fazer o que me dá vontade. E, se tenho vontade de promessa, me vem a ressaca do prometido que não quero cumprir. Preguiça.

E tem aquelas coisas que nunca mudam. As outras, além dessa. Aquele meu modo tão sério de resolver as coisas. Aquela coisa de ser responsável, de ter opinião, personalidade forte. Aquele autismo quando estou com um livro. A velha história da mulher e seu amante - eu e o livro. Porque, muitas vezes, prefiro livros à pessoas.

Talvez eu não devesse ser tão pessoal. Tão racional. Tão exagerada. Tão contraditória.

Em compensação, descobri que nem tudo funciona tão a ferro e fogo. Que um tombo de bicicleta, às vezes, faz a gente acordar. Que os meses dos anos-novos nunca serão como esperamos à meia-noite, ao romper dos fogos. Talvez sejam melhores. Talvez nos surpreendam. Talvez nos ensinem muito ou, talvez, tanto prometam, que decepcionam. Promessas.

Ninguém mais me diz mais nada. Há o que eu prefira descobrir sozinha. Melhor ainda se puder aprender com os erros dos outros. Mas sempre haverá um erro que precisará ser só meu, e do qual não me orgulharei. Vida, erros, mais promessas. A garganta seca, de tanto prometer.

E, agora, tudo o que me prometo é que...

Não sei. Melhor esperar pra ver.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pauta dupla, again.

1. Meninas muito cultas espantam os garotos?

Na verdade, depende do garoto. E da garota. É tudo questão de gosto. E, como gosto não se discute, não há muito o que se fazer a respeito. Se o cara está atrás de uma Barbie que não tem nada na cabeça além de tintura, logicamente não vai querer saber de alguém que, por mais gata que seja, curta Nietzsche, matemática, museus e livros. Meninas cultas costumam ser muito interessantes. Sem contar que fazer a nerd tá super em alta. Mas também é complicado para um cara namorar uma menina que queira falar de Nietzszhe e discutir o Pós-modernismo em pleno sábado à noite, quando tudo o que ele quer é tomar sorvete e falar bobagens com uma garota legal.

A questão é a de sempre: equilíbrio. Não dá pra ser bonita, nem inteligente o tempo todo. Não, a vida não é justa, especialmente conosco, mulheres. Exigem que sejamos lindas, inteligentes, sexy, atraentes, interessantes, divertidas, talentosas, únicas e apaixonantes. E, claro, jovens, magras e sem celulite. Pois é. Por isso, corremos tanto atrás da fórmula mágica da mulher moderna. E, não, ninguém ousou por em prática ainda os conceitos de "beleza interior", "chique é ser inteligente" e "chega de padrões de beleza".

Portanto, isso só depende do que é ser "culta" pra você. E para ele. Quanto à questão de "espantar" homem, "atrair" homem, e afins: prender-se a isso é coisa de mulher desesperada. Você pode ser a mais CDF de todos os tempos - se confiar no seu taco, alguém vai olhar pra você. A questão é saber se mostrar, e equilibrar toda essa inteligência com a feminilidade e a leveza de uma boa conversa que não precise, necessariamente, chegar a algum lugar.

2. E se os dois forem de religiões diferentes?

Religião é sempre um assunto muito complicado. Mas essa é uma questão de respeito e acordo entre os dois. E, principalmente, de os dois assumirem as consequências das escolhas amorosas e religiosas que fizeram. Não adianta chorar se o seu namorado não quer ir à sua igreja, nem achar ruim se vocês, inevitavelmente, conversarem sobre princípios religiosos e discordarem. É claro que passar a vida ignorando a religião do outro não vai adiantar. Portanto, é necessário haver respeito e ter certeza do que se quer. E ver o outro, acima de tudo, como seu namorado, e não como um herege. Com respeito e convicção, as coisas se tornarão mais fáceis.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Pauta dupla! (Divã)

Após um longo e louco semestre, eis me aqui novamente.

Tá, chega de formalidade pedrobialista. --'

Quanto à crônica passada, nem vou terminar. O prazo de validade meio que venceu porque não tive tempo de terminá-la, e a inspiração passou.

Enfim, vamos ao que interessa: o Divã. Hoje é dia de pauta dupla!

1. Você tá a fim. Ele também. Mas ele namora. Comofas?

Ih, a piriguete tá se achando...

"Comofas"? É simples, meu bem: "não fas".

Não gosto de furar olho de ninguém, e sei bem qual é meu lugar. E meu lugar é longe de confusão. Afinal, se o cara é tão a fim de mim assim, não vai me olhar com aquela cara e dizer o clássico "é complicado". E não vou pedir para o cara terminar com a atual só porque ele tá me dando mole. E, digamos que o cara terminasse com a baranga menina por minha causa. Valeria a pena se envolver com um cara que acabou de sair de um relacionamento complicado? E a pergunta que não cala: será que, se aparecer outra e a namorada for eu, ele fará o mesmo comigo?

Claro que é complicado generalizar. O cara pode ter entrado no relacionamento com a tal menina por burrice, carência ou sei lá, e estar mais enrolado que o carinha do clipe da Taylor Swift, coitado.

... e sua namorada sabe que você me manda bilhetinhos?

Mesmo assim, isso não é desculpa para enrolação, é?!

Tem cara que curte a situação, e acaba enrolando até onde dá. Se aceitamos ser "a outra", melhor ainda: as coisas ficam bem mais cômodas. Pra ele, é claro. Portanto, é melhor desencanar e esquecer essa história antes que o envolvimento aumente. Porque, afinal, não sou mulher de bandido e não sou obrigada.

2. Você e ele na mesma sala?! Estudar pra quê?

Se envolver com um cara da sua sala não é, necessariamente, um problema. Essa história de "atrapalhar estudos", pra mim, é desculpa pra quem quer teminar namoro. Mesmo as piores mongas apaixonadas (eu, oi) podem aprender a voltar pra Terra na hora de estudar, mesmo que o perfume dele, que está colado com você, sentado na mesma carteira, faça sua cabeça girar. Ficar de mãos dadas faz aquela aula chata passar rapidinho, e aquela aula legal fica ainda mais interessante, sério. E, se você estiver cansada de todas aquelas teorias, é só arrumar um cantinho da folha pra trocar desenhos e escrever bobagens. Ele pode dar uma lida na sua redação antes que você a entregue à professora, e te dar um toque se ela estiver um lixo (onde você estava com a cabeça, menina?), e te chamar atenção para algum detalhe interessante da matéria, mesmo que seja só para relacioná-lo com algum comentário do mundinho nerd dele, como sempre. E você ri. E suas aulas se tornam mais interessantes. Sim, porque ele está lá. Ele também se torna um motivo a mais para não perder aquela aula de jeito nenhum. Isso é saudável, e pode ser muito didático. Basta ter foco, por mais difícil que seja com um gato daqueles do seu lado.

... e, se adivinhar a fórmula, te dou um beijo. Ou vários.

Gente, beijo na boca na sala de aula não, ok? Carinhos são inevitáveis, mas peguem leve!

Perigo maior é errar a mão no grude e dar aquela "enjoada" básica da pessoa. De colega-de-classe-amigo-e-namorado, ele pode passar a marido-colega-de-trabalho: é quando se chega ao ponto de falar de trabalho matérias da faculdade em pleno sábado à noite, quando vocês finalmente resolveram fazer um programa a dois. Vocês não têm mais tempo de sentir saudades, pois se vêem na faculdade/escola e também no fim de semana. Todos os dias. O dia inteiro. Fazem os trabalhos juntos. Até perceberem que o relacionamento esfriou e que vocês não têm mais amigos. É.

-Você não ia ao banheiro, não?
-Vim só te chamar pra ir comigo até a porta.
--'

A questão é não perder a cabeça e se lembrar de que vocês estão numa sala de aula, precisam passar de ano, fazer amigos e ter vida própria. De resto, namorar um cara da mesma sala está aprovadíssimo!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Amor em jogo

Os dois espremiam-se no sofá. TV ligada, verde-amarelo, rojões. Copa do Mundo. Brasil x Portugal. Não era bem o que se pode chamar de um típico programa de dois jovens recém-casados, recém-formados, vinte e poucos cada um. De um lado, ele, torcedor fanático. Roxo. Patriota. Do tipo que sabe todas as escalações e todas as terminologias futebolísticas possíveis e imagináveis. Machão no último grau, louco para molhar a garganta antes do jogo começar. Do outro, ela, toda mulherzinha, pintava as unhas de cor-de-rosa, a pinça e o espelhinho apoiados no braço do sofá, prontos para serem usados em seguida. E, de futebol e Copa do Mundo, ela só entendia duas coisas: Kaká e Cristiano Ronaldo.

E aquilo o deixava louco da vida. Não queria ter que competir com dois caras mais ricos e mais musculosos do que ele, por mais platônica que fosse a tal paixonite.

Enfim, até relevava. Sabia que aqueles dois bonitões-ricos-pra-caramba-do-outro-lado-do-oceano não representavam ameaça nenhuma. Afinal, tinham acabado de se casar e estavam ardendo loucamente um pelo outro. Sem contar que o Kaká nem ia jogar dessa vez, mesmo. Um a menos para dar trabalho.

E a graça do jogo estava mais em estarem juntos do que em qualquer outra coisa. Se bem que ele levava aquilo muito a sério. Futebol, para ele, era honra, sangue e tudo mais. O jogo nem tinha começado e ele já havia gritado tanto, que ela já estava cogitando a ideia de enfiar algodão nos ouvidos.

É claro que ela não ia dizer "calma, é só um jogo". Não, ela não estava a fim de uma DR, muito menos de um divórcio, com três meses de casada. Mas, vermelho como ele estava ficando, ela já estava começando a ficar preocupada.

Começou. O Hino Nacional. As caretas engraçadas que os jogadores fazem para cantar. As vuvuzelas cornetas incessantes. O CALA A BOCA Galvão Bueno. A seleção portuguesa.



O Cristiano Ronaldo. Irresistível. E a moça até borrou o esmalte.

"Aaaaaaaaaaaaaaaaah, meu Deus!!!!!!!!!!!!!!! Ele é LINDO de morrer!!!!"

Claro que ele não achou graça nenhuma, nem no esmalte borrado, nem no comentário infeliz.

"Então, por que você não se casou com ele?"

Ela, sem graça, parou de consertar as unhas.

"Amor... você sabe que não tem nada a ver. Relaxa. Ele é português, sabe? Nem faz, assim, tããão o meu tipo."

Foi o suficiente para ele surtar de vez.

"Você sabe que eu sou descendente de português, caramba!"

Ih, ferrou.

"Ai... é, né? Mas não tem nada a ver, tô falando que meu negócio é brasileiro, amorzinho."

"Ah, então, se fosse o Kaká, você queria, né?!"

Ela revirou os olhos e resolveu parar com aquilo antes que a coisa ficasse séria.

"Olha só, eu tô de TPM, não entendo lhufas de futebol, e só tô tentando acompanhar meu maridinho num programa que eu acho um saco, porque eu amo esse meu maridinho, ok? E só tô comentando sobre eles porque... bom, porque eu só conheço eles! E o Robinho. E o Ronaldo, né? Aliás, cadê ele?"

"O Ronaldo não foi escalado. Todo mundo sabe."

Ela fez beicinho.

"Eu não sabia."

Ele se sentiu culpado e tomou-a nos braços.

"Vem cá, gracinha. Desculpa."

"Shhhh, o jogo tá começando!"

[continua]

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Questão de você

Se eu te disser, meu bem,
que já não faço a menor questão de você,
veja bem, não discuta,
não me tente, nem tente entender,
pois foi você quem quis,
e eu me desfiz também
dessa ideia maluca
que enfiei na cabeça
por romances demais
e juízo de menos.

Por isso, relaxe,
e não ache que vou mudar de ideia,
nem voltar atrás, nem me arrepender.
Foi só um erro, tente entender,
e, então, me esqueça.

E vou te deixando pra depois,
pro resto da vida, pra nunca mais,
as malas, pode deixar, que eu faço,
tem comida no forno e roupa no armário,
não tem beijo na boca, não tem choro de adeus,
nem mãos dadas, conversas ao pé do ouvido.
E a gente vai desenredando,
se distraindo, se desgrudando,
até cair pro outro lado,
você pra lá
e eu, pra cá,
quieto
no meu canto.

E a gente vai levando,
vai vivendo, levantando,
até cair na real,
e, recobrando os sentidos
a gente descobrir que a gente
nunca fez lá muito sentido.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Andei pensando.

Tô naquela fase louca chamada "terceiro ano de faculdade". Ou, no meu caso, os dezenove-quase-vinte. Um ano pra formatura. Os últimos meses de teen. Essas reflexões de gente que tá chegando nos quarenta. Tá, mas eu só tenho dezenove anos. Ou, então, eu já tenho dezenove anos; ou seja, já tá mais do que na hora de começar a pensar em arrumar um emprego, em ganhar dinheiro, em ter o meu próprio carro, a minha quitinete no centro da cidade, a minha vida de solteira-descolada-na-casa-dos-vinte...

Apesar do medo que me dá ficar pensando nisso (porque, na prática, a teoria é outra e a realidade é uma coisa complicada), acho divertida essa minha mania de ficar esquematizando e arquitetando meus planos de esticar a adolescência até quando eu puder, mesmo nos vintinhos (tipo, continuar comendo brigadeiro com as amigas, pintando uma unha de cada cor, usando meias de dedinhos e esse meu pijama verde-abacate ridículo que eu não troco por nada, passar a noite falando de meninos e futilidades, acampando no quintal com minha prima e pirando com a saga Crepúsculo). E sonhando com o emprego mais descolado, mais legal e mais a-minha-cara de todos os tempos, enquanto vejo gente se formando e indo parar na geladeira do mercado de trabalho.

Não sei como é que arrumo tempo de pensar nessas coisas com tanta coisa da faculdade pra ler, fazer e traduzir. Sem contar o estágio. Mas sabe de uma coisa? Não troco essa minha loucura por nada. Às vezes, sinceramente, não sei onde é que tô com a cabeça. No futuro? No presente? Nos detalhes que eu insisto em complicar? Não sei. Sei que, mesmo este sendo o semestre mais difícil da faculdade, mesmo estando no meu limite, mesmo tendo tomado decisões difíceis nos últimos tempos, ainda acho um barato, entre gritos, estresses e descabelações, descer um pouco do mundo pra comer batata-frita ou chocolate, fofocar, amanhecer dançando. O mundo cansa um bocado, as pessoas se cansam por bobagem.

É por isso que eu prefiro deixar o resto do mundo pra depois. Agora, é hora de imaginar. E, quando chegar a hora, sim, a gente sabe o que fazer.

domingo, 30 de maio de 2010

É como correr atrás do vento.

E cada vez mais eu tenho mais certeza.

Eu não pertenço a este lugar. Ainda sou uma estranha, um ponto deslocado na multidão, alguém que parece que perdeu o caminho de casa. Mas, apesar de tudo, ainda sei o caminho de casa. O complicado é ir contra a multidão, que me empurra num fluxo contrário, tentando me levar com ela para onde todos os outros vão. Todos os outros. Mas eu não quero ir.

Todos são tão vazios, e enchem os copos de mágoas e insatisfações. E soltam anéis de fumaça e lágrimas no ar, com suas risadas tristes, perturbadas, com suas maquiagens, com suas almas ocas. Correndo atrás do vento, interpretando uma vida, fingindo e buscando desesperadamente algo que não sabem o que é.

E, por isso, eles, que vivem no caos, me olham assim, como se eu fosse o caos. E me entristeço por todos aqueles que fingem as vidas dessa maneira, que vivem do óbvio e do exagero, que se esquecem de respirar e de agradecer. E, nessas horas, percebo que nem tudo é tão relativo assim.

Talvez a tola seja eu. Talvez eu apenas não saiba como é.

Mas, ainda assim, esse meu sorriso, ninguém pode questionar.

domingo, 23 de maio de 2010

Quem diria.

Eu costumava ser tão forte antes. Aquela que dava conselhos, inabalável, feminista convicta, que sabia muito bem o seu lugar. Aquela que não deixava ninguém lhe dizer o que fazer, que tinha suas próprias opiniões muito bem firmadas, argumentos bem articulados, todas as respostas na ponta da língua. Media milimetricamente meus passos no chão, calculava, apagava, reescrevia, repensava. Fazer as coisas darem certo era, para mim, um dever. Fazia minhas escolhas, achando que tudo estaria sempre sob controle; que fazer as coisas certas é sempre infalível. Claro, sempre soube que as coisas não eram fáceis; mas hoje vejo que, para mim, isso era mais teoria do que prática.

E, hoje, me desfaço, me desato e me livro de toda essa fortaleza, de toda essa armadura. Sim, sou frágil. Sou falha. Sou humana. Descobri que as coisas fogem do controle quase sempre; que toda aquela minha loucura de viver é quase sempre ilusão; que as pessoas não vêm com manual de instruções; que não tenho paciência para muita coisa; que não existe fórmula, mágica ou segredo para fazer as coisas darem certo; que nada, nada é certo. Descobri tantas coisas - que, por outro lado, me encheram ainda mais de dúvidas, anseios e inseguranças.

Mas, acima de tudo, descobri que me tornei mulher.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Louca

Não me olhem como se eu fosse obtusa. Intrusa. Eu quis ser assim. Parem de me achar a pessoa mais complicada do mundo. Eu sou assim, será que não dá pra entender? Não, não me peçam pra mudar, nem me digam o que fazer. É meu jeito. Sou feliz assim.

E você? Você aí, por que foge de mim? Por que muda de assunto, desvia os olhos e desconversa quando eu te lembro daquilo que podíamos ter sido? Só porque estou nesse estado? Cansei de ouvir dizer que a culpa foi minha. Por ter te perdido, por ficarmos assim, nos evitando, nos esquivando, nos enroscando pelos cantos, desconfortáveis, envergonhados, não querendo encarar o que todos sabem.

Que você não me assume porque eu sou louca. Porque você não pode suportar essa ideia. Porque é desafio demais pra você. Porque você tem sua vida, enquanto eu vivo uma espécie de morte.

E a polícia, vão chamar também? Vão me acusar, me reduzir, me ignorar? Vão me achar a pior pessoa do mundo, só porque não sou como vocês? Não me venham com injeções, com pancadas, com palavras bem articuladas, com vozes esquivas, com gestos calculados, medidos, com roupas brancas e sistemas e regras e pílulas e obrigações e horários e racionamentos e ignorâncias. Não quero saber dos seus conceitos, dos seus fatos, dos seus desejos, dos sinais dos tempos, da lógica, das explicações.

Eu vivo, e vivo de crer, não de ver. Aliás, vocês não sabem o que sou capaz de ver. Hipócritas.

Mas o que me dói, o que realmente importa, não é o que vocês pensam de mim. É o que você pensa. É o que você se tornou por culpa de eu ser quem sou.

Já não nos reconhecemos. Você já não é meu.

Mas sabe de uma coisa? Eu não pertenço ao seu mundo. Eu tenho uma ideia melhor. Um plano. E, se você não me aceitar, devo dizer que sinto muito. Talvez você não faça parte do meu mundo. Não mais. Se é que um dia eu tenha feito parte do seu.

Não me dêem ouvidos. Muito menos você. Eu sou louca. Louca.

sábado, 15 de maio de 2010

Ideal

Não tenho muita ideia do que seria ideal pra mim.

Talvez um sábado à noite melhor do que este, ou mais uma das minhas loucuras devidamente saciadas. Talvez ser outra pessoa, talvez continuar na minha. Amar ou ficar só, deixar ser, deixar estar, mudar tudo de lugar. O que desse pra ser, pra viver. Ou o que ousasse me tornar.

A verdade é que meu não-ideal é o que me faz viva. Não que eu não idealize. Mas metade de mim é carne e osso, e a outra metade é alma e aço. Sou mulher, sou complicada, sou frágil, sou mais forte do que sei. Eu sei.

E, agora, neste exato momento, tudo o que sei é que meu ideal seria estar ao lado daqueles que amo, fazendo nada, falando besteira, contando segredos, rindo e pensando. Ou, simplesmente, em silêncio. Mas com eles, ao lado deles. Porque todos os dias que passamos juntos não são o suficiente, porque todas as conversas e segredos e tempo do mundo não bastarão para que nos conheçamos plenamente, para que matemos todas as vontades e curiosidades e saudades que sentimos uns dos outros.

Sim, eles são o meu ideal. Estar com eles é meu ideal. E que o tempo, esse mesmo que nos juntou e que, um dia, planeja tanto nos separar, tenha piedade de nós e nos dê ainda mais tempo. Porque vivo dos outros, daqueles que amo, que me fazem viver por mim, por eles e por motivo de força maior.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Palco


O som, o sangue e o suor.
A nota, notória na noite.
O grito agudo, mudo, grave.
O som sofrido, suave.
O peito, o povo e o prazer.
A paz, a alma e a expressão.
Eu e a voz, a sós na multidão.

Apoteose.

O palco.

A palma.

A gratidão.

Sou um artista.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A mulher certa

Já era casado, tinha uma filha, um emprego, uma vida tranquila. Tinha mais de quarenta, não muitos planos para o futuro. Queria ficar sossegado, já havia se conformado que não era mais tempo de emoções juvenis, corações batendo, mãos suando, segredos e arrepios.

Afinal, ela também havia se casado.

Se viram tão pouco depois da formatura. Foi aquela coisa de "cada um para um lado". Se conheceram na faculdade - ele gostava dela, ela gostava dele, e acabaram juntos. Se envolveram mais do que gostariam. Se impregnaram um do outro, trocaram alianças de papel no fim de uma festa. Se entregaram, se apaixonaram, se disseram verdades absolutas e irrevogáveis.

Mas ele deixou algumas coisas ficarem no caminho. O dito pelo não-dito, o feito pelo malfeito, o mal-entendido, o sem-querer e o de-propósito, as desfeitas, as cenas de ciúme, as brigas, as lágrimas e tudo o que ele fazia tão ao contrário. Talvez porque pensasse que machucá-la daquele jeito a fizesse sentir-se viva. Ou porque tivesse descoberto que ainda era um garoto, e que ainda não estava pronto para a mulher certa.

Como se estivéssemos, em algum momento ou de alguma forma, prontos para o amor.

E acabou que, no fim, o fim chegou, tão magoado e tão doído, que não teve beijo de despedida no fim da festa de formatura. E ela pegou um avião para a Espanha; ele foi para São Paulo dar um jeito na vida de recém-formado.

Mas, cada um no seu avião, cada um com sua dor, choraram.

Cinco anos se passaram. Ele, na São Paulo de sempre, parecia estar bem no trabalho. Às vezes, sentia falta dos amigos da faculdade. E ela, claro, estava eternamente ali, num canto da memória, doendo feito o diabo no peito.

Até que, um belo dia, a memória passou, em carne e osso, diante dos seus olhos.

Era a Daniela mais linda, mais mulher e mais sedutora que ele já havia conhecido. Mas o sorriso faceiro e os grandes olhos azuis da Daniela-menina da faculdade ainda estavam lá, por trás dos cabelos enormes que, de pretos, passaram a ruivos. Ainda tinha aquela cicatriz charmosa na sobrancelha. Era a mesma Daniela, a sua Daniela, a mulher certa, a única que seria capaz de amar e que ainda o fazia perder a cabeça.

A sua Daniela barriguda. E, nessa fração de segundo em que a contemplou sozinha no saguão, apareceu um homem, que a tomou pela mão e a beijou.

Ela estava grávida. E casada. E feliz. E completa. E realizada. E apaixonada.

E, mais do que nunca, sentiu a dor aguda no peito. Ele a havia perdido para sempre, e a culpa era dele. Ela fora a mulher certa desde o começo, enquanto ele fora apenas o cara errado e imaturo e egoísta. E, agora que ele havia se tornado um homem, já era tarde.

Ele seguiu sua vida tranquila. Casou-se, teve uma filha...

Mas aquele vazio no peito, aquele amor mal-resolvido, aquele arrependimento insuportável, aquilo ele nunca esqueceu. Ela permanecia fato consumado em seu peito, enquanto ele era, para ela, apenas um borrão num retrato antigo, apenas uma marca apagada de beijo, apenas uma lembrança bonita, mas que já não fazia o menor sentido.

domingo, 9 de maio de 2010

Ela

Não te amo porque você é perfeita.

Te amo, porque você me ensinou muito com seus erros. Te amo, porque você aguentou 22h de trabalho de parto normal. Te amo, porque você me ensinou inglês. Te amo, porque em você eu posso confiar. Te amo, porque você faz a melhor comida do mundo. Te amo, porque você me ensinou a ser mulher. Te amo, porque você me dá conselhos ótimos a respeito da vida. Te amo, porque você me deixa chorar no seu colo. Te amo, porque não escondo nada de você. Te amo, porque, com você, eu posso falar de amor, de sexo e das minhas piores inseguranças. Te amo, porque você nunca me escondeu quem você foi. Te amo, porque você é meu pai e minha mãe. Te amo, porque você é mais macho que muito homem. Te amo, porque você é responsável. Te amo, porque você não tá nem aí pra esse povo. Te amo, porque minhas amigas te acham o máximo. Te amo, porque você é linda. Te amo, porque você é uma guerreira. Te amo, porque você se ama acima de tudo. Te amo, porque você não me julga por meus defeitos. Te amo, porque herdei seu gênio forte. Te amo, porque você pintava meu cabelo de pink. Te amo, porque você me dá ideias pras minhas roupas. Te amo, porque você é estilosa. Te amo, porque você me entende. Te amo, porque você torce por mim.

Te amo porque, por causa do seu amor, cheguei onde estou. E, onde quer que eu ainda chegue, será por sua causa também. Te amo, e agradeço a Deus por ser sua filha. E nada, nada vai mudar isso.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Lá vem metalinguagem...

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

Fernando Pessoa

FINGIR: verbo transitivo direto 4. criar na imaginação; inventar/ verbo transitivo direto 5 criar como fantasia; imaginar, supor. [Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa]

Venho sendo meio mal interpretada ultimamente aqui no blog. Sim, porque acho que alguns de meus leitores vêm se esquecendo do que escrever significa e, consequentemente, do que a fantasia e a imaginação de um escritor são capazes.

É tão bom criar! Criar universos, mundos, pessoas, personalidades, situações, casos e sentimentos. Fantasiar-se e ir a um baile de máscaras para, depois, despir-se, decompor-se, e voltar a ser a mesma garota de todos os dias. É tão bom andar de cara lavada, mas isso não tira a diversão e as cores novas que a maquiagem traz, nem tira o brilho da fantasia, do mágico, do fictício. E é uma forma tão saudável e inteligente de fugir do mundo humano para um universo tão próprio e novo, tão mais a ver comigo. Isso se chama inventar. E inventar não é para qualquer um.

Assim como também não é para qualquer um interpretar esses novos universos, tornar-se parte deles, desconstruí-los. Afinal, um escritor nunca escreve para "ninguém" ler; mesmo quando escreve para si, num diário secreto, por exemplo, o autor tem um público-alvo: ele próprio. Mas isso é muito conversa de faculdade rsrs.

Onde quero chegar é: nem todos os textos deste blog são pessoais! O fato de Louise Mira escrever textos românticos não significa, necessariamente, que Louise Mira esteja apaixonada. É por isso que gosto muito de tags. Quando um texto tiver a tag Eu Lírica, podem ter certeza de que é pessoal, sim. Algumas Crônicas podem ser pessoais ou não, e há aquelas que eu não especifico mesmo, porque nem sempre quero que saibam se é pessoal ou não (o que é um direito meu, e dar um ar de mistério é bom! hehe). Mas, mais do que falar de mim, gosto de inventar!

Por isso, não gostariam que me julgassem pela fantasia que crio. Não confundam as personagens que aqui interpreto com o ser humano que está digitando isso aqui. E, como disse o poeta, mesmo quando, de fato, sou eu mesma aqui, ainda assim sou uma fingidora. E sigo fingindo num mundo onde quem faz as verdades sou eu. Este aqui é o meu mundo, onde posso ser quem quiser: uma bailarina, um ladrão, um poeta, um morto, uma pedra, uma palavra, ou, por que não, até mesmo Louise Mira. Ou, no maior descaramento do mundo, até mesmo você.

domingo, 2 de maio de 2010

Atrevimento


[num bilhete, numa sala de aula]

Sabe, garoto, você me irrita profundamente.

Por isso, se um dia eu voar no seu pescoço e te der um beijo na boca, não reclame, que a culpa é sua.

Sem mais,

A.


[dois rostos corados, nem sinal de beijo na boca]

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Cachos!


Foto velha, da época do cabelo pink! =O

Este post atende a pedidos de uma leitora no meu formspring.

Sim, vamos deixar a emice de lado e falar de cabelos. Ou melhor, da minha relação amorosa com os meus.

Cabelo cacheado é uma delícia. Coisa linda de Deus, suuuuper original e tá conquistando espaço de novo (chapinhudas que se cuidem!). Se bem tratado, não tem coisa melhor. Mas, enfim, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é, né, Caetano? Portanto, vamos aos prós e contras dos cachinhos, com algumas dicas para fugir do jubão.

PRÓS


- Tá na mão, tá na moda! tá na C&A Aliás, sempre esteve, ok? Desde os anos romanticíssimos, em que ninguém pensava em chapinha, desde que a dona Florinda usava bobes no cabelo (certo, não é lá um grande exemplo fashion, mas enfim), desde que a SUA MÃE fazia permanente no cabelo nos anos 70 (sim, pergunta lá pra ela)!

- É moderno e despojado. Com um corte legal, dá um ar leve e divertido ao visual.

- Não precisa de pente! Só após o banho, e olhe lá. Use um bom leave-in (creme sem enxágue), um pente de madeira (para evitar o frizz), amasse bem os cachos e espere secar.
- Os fios rebeldes podem se tornar aliados, e não inimigos. O look fica casual e moderno. Mas atenção: não confundir fios rebeldes com frizz excessivo. Por isso, é sempre bom usar um leave-in legal.
- Cansou da mesma cara? Usando grampos e elásticos, você pode deixar o cabelo do jeito que quiser, no comprimento que quiser! Sim, basta separar um tempo para "brincar" com o cabelo e conhecê-lo melhor. É sério: fazer amizade com o cabelo é a melhor maneira de torná-lo obediente!

- Você pode sair na chuva sossegada, querida. =)
- Você não é escrava da chapinha! Você é livre! Livre! Liiivreeeee!!!! \o/
Tá, parei. ¬¬

- Mas, se quiser uma chapinha de vez em quando também, você pode! Você pode escolher qual cabelo ter naquela festa ou naquele dia em que você quer um cabelo diferente. Além disso, em cabelo cacheado qualquer penteado se fixa (ao contrário de muitos lisos, que nem com muito laquê param no lugar). Agora, franja lisa com cabelo cacheado é meio out... ou uma coisa, ou outra! Decida-se!
Mas, como nem tudo são flores...

CONTRAS


- Temos de reconhecer: cabelo cacheado não é nada prático. A única coisa que me mata de inveja da minha amiga de cabelo liso é que ela pode torcer, jogar, prender, trançar e ficar passando os dedos entre os fios o quanto ela quiser, que eles ficarão sempre lisinhos. No máximo, o cabelo dela só vai ficar com um pouco mais de volume e oleosidade.
Agora, experimenta fazer isso no cabelo cacheado. Ele fica armado, seco e disforme. Daí, se mata.

- A oleosidade não é uniforme; por isso, as pontas ficam secas rapidinho. É importante dar uma aparada a cada três meses.
- Cresce o mesmo tanto que o liso... mas os resultados só são visíveis a longo prazo. Por isso, se quiser um cabelão poderoso, tenha muita, mas MUITA paciência.

- Ah, o volume. Esse é um tópico complicado, já que pode ser a coisa mais linda em um cabelo cacheado, ou a coisa mais feia. Primeiro, porque volume demais vira juba de leão e fica muito feio. Segundo, porque volume de menos te deixa sem graça. Por isso, tem que saber dosar, com a ajuda de leave-ins, babyliss, e de outro fator problemático, que é...

- ... o corte. Vamos combinar que há cortes que são totalmente vetados para cabelos cacheados, como chanel, retos e franjinhas. E um corte malfeito pode acabar com sua aparência, pois o cabelo ou arma demais, ou arma de menos, ou fica sem movimento, ou some. Por isso, não vou sugerir nenhum corte pra você (tá, eu adoro o meu! ^^), mas aconselho que procure um bom cabeleireiro, converse com ele e veja o que dá certo no seu tipo de cacho (sim, os cachos são diferentes entre si) e no seu formato de rosto. Outra dica legal é inspirar-se no corte de famosas de cabelo cacheado, como a Taylor Swift e a Joss Stone. Depois, é só ser feliz!


Se elas podem, você também pode!

Agora que você conhece os prós e contras, vamos às dicas:

- Equação geral: cachos perfeitos = shampoo específico + leave-in + pente de madeira + jogue-pra-frente-pra-trás + amassadinha (+ - babyliss).

- Seu cabelo tem volume? ASSUMA! Quem disse que volume é feio? Pelo contrário! Volume é o que há no cabelo cacheado! Se bem controlado, pode te dar um ar poderoso!

- Lei: NUNCA penteie o cabelo seco. É suicídio social, querida.

-Não há nada mais feio, nojento, fedido e sem graça do que cabelo cremoso. Cuidado pra não errar a mão no leave-in! Para um cabelo comprido, uma porção aproximadamente do tamanho de uma moeda de um real já é mais do que suficiente. Senão, o cabelo fica pesado, sem movimento, sem brilho e com um aspecto molhado. Isso envelhece e pesa no visual.

- Babyliss dá trabalho, mas, depois que você pega a prática, não tem coisa melhor. Não precisa nem fazer no cabelo inteiro: só de fazer na franja e em alguns cachos aleatórios, dá uma diferença legal. Enrole a mecha, espere 30 segundos (no máximo!) e solte com cuidado. Depois, dê uma desmanchada com as mãos, pra ficar mais natural. Pronto!

- Trança é um penteado infalível para os bad hair days. E para todos os outros dias em que você quiser inovar.

- Quer cortar curtinho? Você pode! É só conversar com o seu cabeleireiro e aprender a modelar os cachos com gel e pomada!

- Brinque bastante com o cabelo quando estiver em casa. Teste penteados, use e abuse dos grampos, dos lenços e dos acessórios. Dessa forma, você vai saber o que fica legal em você. Não tenha medo de ousar! Mostre que você é estilosa da cabeça aos pés!

- Se seu cabelo tem volume, como o meu, não o prenda para dormir. Se você deixá-los soltos, quando você acordar, seus cachos estarão redondinhos! Para dar uma "acalmada" neles, é só molhar um pouco os dedos (eu disse os dedos, e não o cabelo) e passá-los de leve por cima dos fios, amassando sempre. Você terá cachos novinhos em folha sem esforço algum.

Depois de todas essas dicas, você ainda pensa em progressiva?! Assuma os cachos. Acredite: você pode!

Qualquer dia, farei um dossiê de penteados para cabelos cacheados especialmente para vocês! =)

domingo, 25 de abril de 2010

No amor e na guerra, às vezes é melhor ceder.

Desligou o telefone aos prantos. Mas, durante toda a ligação, havia sido uma rocha.

Nunca se achara mulher o bastante para fazer aquilo. Por um tempo, resolvera resignar-se à sina que lhe havia sido reservada: amá-lo eternamente, venha o que vier. Ele era apenas seu namorado; nada além disso os mantinha presos um ao outro.

Exceto pelo fato de que ele não era apenas um homem em sua vida.

Ele era o homem que ela mais havia amado em toda sua vida. E eles já não eram mais adolescentes. Ela fazia de tudo para que eles dessem certo, enquanto ele simplesmente seguia o curso do romance, encarando as brigas e o desgaste como parte da rotina de um casal que ficaria junto para sempre, porque era assim que tinha de ser.

Toda aquela paixão, toda aquela loucura, toda aquela sede não foram o bastante para mantê-los queimando. E as coisas começaram a ficar normais demais, quando tudo o que os dois queriam era fugir para alguma ilha deserta, um planeta novo, uma estrela no horizonte.

Tiveram conversas complicadas, brigas horríveis, lágrimas derramadas e infinitas reconciliações. Ela sempre achava que as coisas iam mudar; ele já sabia que aquilo ia continuar se repetindo, por mais que os dois não quisessem.

Mas eles se gostavam tanto. E, quando estavam em paz um com o outro, tudo era tão bonito.

A verdade era que os dois já estavam cansados de fazer do amor um campo de batalha, e que já estavam feridos demais para agarrarem-se a qualquer sentimento que ainda restasse.

Enfim, ela resolveu encarar o que, no fundo, sempre soube: que, não, aquilo nunca daria certo. Pegou o telefone, discou e, impassível e indestrutível, desferiu o golpe final.

"Acabou".

E as lágrimas que derramou foram de tristeza, de derrota, de saudades, de luto, de frustração, mas, acima de tudo, acima de tudo mesmo, de alívio.

Porque, no fim das contas, certos amores foram feitos para jamais terem sido.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Rebeldes sem causa

Tenho me deparado ultimamente com uma enorme quantidade dessa raça de jovens sem personalidade nenhuma. Do tipo que acha lindo fumar e tirar foto com cigarro. Do tipo que acha o máximo encher a cara e dar o que falar nas festas, beijar uns 10 por noite, entre outras coisas do gênero. E tem também aquele povo que acha que pegar geral, fumar, encher a cara, nunca sorrir, falar mil palavrões, odiar "a sociedade hipócrita" e ouvir bandas que ninguém conhece (nada contra ouvir bandas que ninguém conhece, ok? Eu mesma tenho lá as minhas) é viver a plenitude do "Sex, drugs and rock and roll" (aham, Cláudia). E tem aqueles que "gostam, mas não têm coragem"; os que admiram os anjos caídos, as lendas do rock e aqueles que morreram de overdose; mas que, no fundo, não têm toda essa "atitude" que seus ídolos mostraram.

Sabe, cada um faz o que quer da própria vida, e isso é fato consumado. Aliás, ninguém gosta de lição de moral. Mas chamo atenção para algo que se chama personalidade, conhece? Talvez os jovens não consigam mudar o mundo simplesmente porque, em vez de mudá-lo, queiram piorá-lo. É muito fácil odiar a "sociedade hipócrita e conservadora"; mas será que não falta amor aqui? Um pouco de esperança? Pra que odiar tanto a tudo e a todos? O que nos faz retroceder é, sim, o ódio que fazemos questão de sentir pela vida, pelas pessoas, pela sociedade. E toda essa rebeldia se torna, na verdade, uma espécie de conformismo: afinal, cremos que nada nunca vai mudar e que as coisas só tendem a piorar - por isso, chutamos o pau da barraca e cruzamos os braços. Voltamos uma atenção egocêntrica para nós mesmos: queremos mostrar o quanto podemos ser rebeldes, chocantes, descolados, seguindo o "live fast, die young", em busca de nossa própria glória. Queremos atenção, aplausos, reconhecimento, como nossos ídolos mortos tiveram. Queremos nos tornar lendas.

A quem estamos tentando enganar com toda essa falsa rebeldia? Esses jovens não querem mudar o mundo, mas querem mudar o conceito que têm de si mesmos, exatamente por não se aceitarem como são. Buscam ser outra pessoa - mais interessante, menos real, menos mortal. E isso é uma tremenda falta de atitude e de personalidade.

Vale tentar parar um pouco com esse circo de querer aparecer tanto. Se for para haver rebeldia, que venha valer a pena. Que venha fazer efeito no mundo, e não se limitar a apenas mais um adereço de roupa, mais uma noite de porre, mais uma pessoa odiada. Muito cuidado, pois todo esse esforço de tentarmos "não ser apenas mais um" pode nos tornar o pior de todos os clichês.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Algo ou alguém, nada e ninguém.

Os dias têm sido loucos e a vida não tem dado trégua.

As pessoas riem de piadas que não entendo, as palavras fogem junto com o desejo, que vai queimar noutro peito e me deixar em paz. Para, quem sabe, me consumir de vez algum dia.

Os dias me esgotam, as pessoas me cansam, as conversas não se encaixam.

Quem poderá me defender?

Quando virão me salvar? E se eu enlouquecer? E se eu cair do mundo e me perder no Universo? Com todas aquelas estrelas que não sabem o caminho de casa. Na escuridão, no vácuo, no silêncio.

Eu tenho medo. E se eu for criança? E se eu não tiver mais graça?

Quantos braços? Quantos mundos? Quantas respostas? Quantas perguntas?

Quantas vezes eu vou ter que te invocar, te rogar que apareça na minha vida e me salve de vez?

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Menino de azul

Um dia, quero ter um filho.

E ele nascerá da noite mais incrível, do beijo mais longo, do leito mais macio, do amor mais intenso, das fantasias mais loucas, da emoção mais arrebatadora e do sentimento mais sincero. Será plantado pelo homem mais íntegro e acolhido pela mulher mais realizada. Será embalado no ventre mais amado, nas palavras mais doces, nos braços mais protetores. Virá ao mundo pelas mãos mais firmes, pelo caminho mais belo, pela lágrima mais transparente. Será acolhido e alimentado no seio mais gentil, no colo mais maternal, no toque mais delicado. Será ninado pela voz mais doce, pelo balançar mais leve, por toda a ternura, e inocência, e cuidado. Crescerá nos caminhos mais retos, nas palavras mais sábias, na esperança mais certa. Saberá tornar-se homem, firmará seus passos e construirá uma vida. Tomará gosto por viver, por sentir, por aprender.

E, quando ele já estiver lá, tão longe e tão dentro de mim, eu já vou saber. E, quando ele chegar, meus braços já estarão abertos.

Mas, no meu sonho, ele já nasceu.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O mundo gira devagar, e nos envolvemos tão rápido.

Sabe, se descobrir é uma coisa engraçada.

Descobrir os outros é hilário.

E o engraçado é que nunca se conhece alguém tão descaradamente, descarnadamente, desesperadamente bem. E as pessoas fazem coisas que ninguém jamais esperaria. Para o bem, ou para o mal. Para orgulho, ou para decepção.

E nos decepcionamos. Seja porque as pessoas mudam (ou revelam o que sempre foram, mas nunca descobrimos), seja por que fomos nós que mudamos. Que caímos na real. Ou, até mesmo, que caímos no erro. É complicado.

O que mais nos intriga é tentar desvendar o outro, como falei em algum post anterior. É descobrir se tudo o que nos foi dito durará para sempre, ou se foi tudo uma grande e linda mentira. Fato é que estamos cansados de chorar por pessoas e situações em geral - é tudo por causa do amor, não necessariamente do romântico. Mas quem é que não gosta de ouvir belas palavras?

Iludir-se é tão belo por um instante. Pelo instante de um piscar, pelo instante de um pulsar, pelo amor de uma esperança. Quem sabe? O "talvez" é, praticamente, um "sim", e flutuamos a três metros do chão.

Para, finalmente, cairmos com tudo no chão. O tombo é feio, e a dor, aguda. E assim sucessivamente, decepção após decepção.

Mas por que diabos continuamos a nos envolver, e nos envolver, e nos envolver, até ficarmos enovelados e tão totalmente rendidos ao outro?

Talvez porque, bem lá no fundo, uns gostem de sofrer. Ou talvez porque os corações precisam de alguém em quem despejar as carências. Talvez porque ainda haja aquela (clássica) esperança de que tudo termine bem, de que as pessoas mudem, ou de que as coisas permaneçam exatamente do jeitinho que sempre foram. Talvez porque assistimos romances demais, lemos livros demais, ouvimos músicas demais. Talvez porque não tenhamos mais nada a perder. Talvez porque o risco de sofrer nos dê adrenalina.

Ou, tão-somente, porque talvez o risco valha a pena, mais do que qualquer coisa nesse mundo.

domingo, 28 de março de 2010

(Pauta dupla) No radar deles: vamos falar de homens

Seguinte: pauta dupla para a seção "No radar deles" da revista virtual Divã:

À distância dá certo?

Ontem eu estava na net, de boa, quando o namo de uma colega de facul (detalhe: nem conheço ele direito) me chamou e, como quem não quer nada, começou um interrogatório sobre a garota: onde ela foi, com quem, que horas voltaria, o que foi fazer... Ela mudou de cidade para estudar, enquanto ele permeneceu na cidade dela (clássico, não? Quase todo mundo passa por isso). E eu disse, numa boa, para ele relaxar, que a menina é toda certinha e gente boa, e talz. Ao que ele me respondeu: "É, eu sei. É que homem é assim mesmo. Cuida dela pra mim, tá?".

Sem contar uma outra amiga na mesma situação, mas cujo namorado terminou com ela por internet após uma crise de ciúmes (só porque a menina resolveu dar uma saidinha de dia com uma galera).

E posso falar por mim: eu já namorei à distância. Sim! Mas com a diferença de que a gente tinha muita confiança um no outro, e isso rolava numa boa, sem ciúmes nem cobranças. O que era sofrido mesmo era a saudade, a carência. Mas isso é questão de se aprender a lidar com as limitações desse tipo de relacionamento.

E concluí que esse lance de namoro à distância depende muito do casal pra funcionar. Não vou culpar os homens (já que também conheço meninas que monitoram cada passo do namorado, e olha que moram na mesmíssima cidade!), por isso, acho que, pra coisa funcionar, os dois precisam colaborar. É preciso confiança! Se você acha que vai ser traída (o), nem comece o namoro, ou termine antes que a relação se desgaste pelas DRs sem fim. Outra coisa: não é porque você mudou de cidade que vai deixar de sair com a turma e conhecer gente, dica. Bitolar não resolve! Afinal, cada um sabe de si, e aprontar ou não é uma questão de caráter e consciência. E, onde há sentimento, há respeito e há saudade, jamais controle e desconfiança.

Procuram-se príncipes

Vou dizer uma coisa: sabem por que falta homem cavalheiro nesse mundo? Por culpa nossa. Sim: nós, mulheres, estragamos tudo. Queremos pagar de feministas, independentes e descoladas, e achamos que cavalheirismo é mais uma forma de machismo. Desconfiamos da masculinidade do cara que puxa a cadeira para nos sentarmos. Achamos que receber flores é meio last week. E há quem pense que homem fofo e respeitoso não tem pegada (sim, em tempo de relacionamentos superficiais e instantâneos, é só isso o que importa).

E os caras crescem com medo de serem mal-interpretados. E vêem as meninas darem moral para os canalhas da turma. E não vêem seus pais serem cavalheiros com suas mães e avós. E têm medo de demonstrar zelo, carinho e respeito por qualquer mulher, já que homem que é homem chega "jogando na parede e chamando de lagartixa".

Mas, quando nos damos conta do quanto seria bom ter um homem que nos tratasse como mulheres, e não como pedaços de carne, reclamamos. Achamos que são todos iguais, uns canalhas, grossos, ignorantes, quando, na verdade, os homens têm medo de serem cavalheiros e desagradarem às mulheres-modernas-do-século-XXI, de serem zoados pelos amigos, de gastar dinheiro com flores, de cair no ridículo, de ficarem na prateleira só porque não chegaram "jogando na parede". Por isso é que eu digo: sim, a culpa é nossa! Sim, mulheres: devemos parar com essa mania de querer conduzir tudo! Qual o problema se o cara quiser te pagar um jantarzinho de vez em quando? Ah, vai dizer que você não vai achar o máximo?!

E, para finalizar, deixo uma frase do gatésimo, lindo, absoluto ator Mateus Solano: "Machismo é inadmissível nos dias de hoje. Mas, mulheres, deixem os homens abrirem a porta do carro. Não é machismo, é cavalheirismo." Fica a dica.