segunda-feira, 19 de julho de 2010

Humpf.


Gosto ainda mais de sorvete no inverno. E gosto das coisas mais complicadas do que realmente são. Gosto do inverso e do avesso, do fluorescente. Do cheiro das coisas, do cheiro de casa. Gosto da temperatura do focinho da poodle. De ser pega pela cintura. Do cabelo dele todo bagunçado. Gosto ainda mais de sua jaqueta de couro, de sua cara de mau. Gosto do que não consigo decifrar direito. Acho isso tudo um grande absurdo. Mas eu gosto. Eu gosto de meias listradas, de cubos de gelo, de solos de guitarra. Ficar de pijama, largada na cama, sonhando bobagens sem sentido.

E esse texto... não faz o menor sentido. E eu, por acaso, faço? E era pra fazer?

Só porque gosto ainda mais de sorvete no inverno, ainda tenho que ficar dando explicações. Humpf.

sábado, 10 de julho de 2010

Borboleta


Gostava de brincar sozinha na casinha azul. Fazia mundos de saia-rodada, cabelos-cachinhos, a flor no cabelo, o batom. Brincar de ser mulher, nos saltos de sua mãe. Só não gostava muito de rosa. O azul lhe parecia muito mais atraente, interessante, misterioso e doce. Algo um pouco menos óbvio.

Queria ser bailarina, princesa e veterinária. Uma menina típica. Se bem que, às vezes, punha-se a pensar que, se fosse astronauta, talvez conquistasse algo mais do que o mundo. E tinha o pianinho de madeira, suas sinfonias desafinadas, a plateia de bonecas, atônitas, estáticas. Talvez sorrissem por dentro. Ninguém entende as bonecas. Ninguém sabe o que elas aprontam quando não se está perto. Ou o que pensam das meninas.

Gostava dos livros. Mais das palavras do que das gravuras, sempre. Tinha mais do que apenas cinco anos de idade: era esperta e madura, mas não menos criança por isso. Gostava de contradizer-se o tempo todo, apesar de sua personalidade forte. Teimosa que só. Queria as unhas vermelhas da mãe, queria o pai. Gostava de espelhos, dançava sem saber. Suja de bolo, agora descalça. Lambendo os dedos, estudando o desenho que a borboleta fazia no ar.

"A borboleta é azul".

E tanto filosofou, rostinho sério, olhos graves, cuidadosos, que descobriu que feliz era a borboleta. Podia ser o que quisesse: fada, princesa, bailarina, astronauta, pétala de flor. Podia ter cor de céu. Ter cor de azul. Desaparecer no ar, num vôo de brisa, silenciosamente.

E decidiu que, quando crescesse, queria era ser borboleta.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Prometo.

Cada vez mais, entendo menos das coisas.

É verdade. Porque tenho aquela velha mania de prometer e dizer coisas no auge do momento para, depois, me arrepender. Por preguiça. Ou por ter sido coisa de momento, oras. Mas, se penso mil vezes e não prometo coisa nenhuma, me vem aquela velha pergunta.

"E o valor que se dá às pessoas?"

Às vezes, eu só quero é que se dane, e acho pouco. Aquele egoísmo carnal de todo ser humano. Momento, momento. Prefiro ficar jogada na cama, ouvindo Oasis e pensando na vida. Prefiro fazer o que me dá vontade. E, se tenho vontade de promessa, me vem a ressaca do prometido que não quero cumprir. Preguiça.

E tem aquelas coisas que nunca mudam. As outras, além dessa. Aquele meu modo tão sério de resolver as coisas. Aquela coisa de ser responsável, de ter opinião, personalidade forte. Aquele autismo quando estou com um livro. A velha história da mulher e seu amante - eu e o livro. Porque, muitas vezes, prefiro livros à pessoas.

Talvez eu não devesse ser tão pessoal. Tão racional. Tão exagerada. Tão contraditória.

Em compensação, descobri que nem tudo funciona tão a ferro e fogo. Que um tombo de bicicleta, às vezes, faz a gente acordar. Que os meses dos anos-novos nunca serão como esperamos à meia-noite, ao romper dos fogos. Talvez sejam melhores. Talvez nos surpreendam. Talvez nos ensinem muito ou, talvez, tanto prometam, que decepcionam. Promessas.

Ninguém mais me diz mais nada. Há o que eu prefira descobrir sozinha. Melhor ainda se puder aprender com os erros dos outros. Mas sempre haverá um erro que precisará ser só meu, e do qual não me orgulharei. Vida, erros, mais promessas. A garganta seca, de tanto prometer.

E, agora, tudo o que me prometo é que...

Não sei. Melhor esperar pra ver.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pauta dupla, again.

1. Meninas muito cultas espantam os garotos?

Na verdade, depende do garoto. E da garota. É tudo questão de gosto. E, como gosto não se discute, não há muito o que se fazer a respeito. Se o cara está atrás de uma Barbie que não tem nada na cabeça além de tintura, logicamente não vai querer saber de alguém que, por mais gata que seja, curta Nietzsche, matemática, museus e livros. Meninas cultas costumam ser muito interessantes. Sem contar que fazer a nerd tá super em alta. Mas também é complicado para um cara namorar uma menina que queira falar de Nietzszhe e discutir o Pós-modernismo em pleno sábado à noite, quando tudo o que ele quer é tomar sorvete e falar bobagens com uma garota legal.

A questão é a de sempre: equilíbrio. Não dá pra ser bonita, nem inteligente o tempo todo. Não, a vida não é justa, especialmente conosco, mulheres. Exigem que sejamos lindas, inteligentes, sexy, atraentes, interessantes, divertidas, talentosas, únicas e apaixonantes. E, claro, jovens, magras e sem celulite. Pois é. Por isso, corremos tanto atrás da fórmula mágica da mulher moderna. E, não, ninguém ousou por em prática ainda os conceitos de "beleza interior", "chique é ser inteligente" e "chega de padrões de beleza".

Portanto, isso só depende do que é ser "culta" pra você. E para ele. Quanto à questão de "espantar" homem, "atrair" homem, e afins: prender-se a isso é coisa de mulher desesperada. Você pode ser a mais CDF de todos os tempos - se confiar no seu taco, alguém vai olhar pra você. A questão é saber se mostrar, e equilibrar toda essa inteligência com a feminilidade e a leveza de uma boa conversa que não precise, necessariamente, chegar a algum lugar.

2. E se os dois forem de religiões diferentes?

Religião é sempre um assunto muito complicado. Mas essa é uma questão de respeito e acordo entre os dois. E, principalmente, de os dois assumirem as consequências das escolhas amorosas e religiosas que fizeram. Não adianta chorar se o seu namorado não quer ir à sua igreja, nem achar ruim se vocês, inevitavelmente, conversarem sobre princípios religiosos e discordarem. É claro que passar a vida ignorando a religião do outro não vai adiantar. Portanto, é necessário haver respeito e ter certeza do que se quer. E ver o outro, acima de tudo, como seu namorado, e não como um herege. Com respeito e convicção, as coisas se tornarão mais fáceis.