segunda-feira, 27 de junho de 2011

Implicância

Pra começar, eu te acho esquisito.
E, logo de cara, não vou com a tua cara.
Logo depois, já te acho babaca.
E, em seguida, te acho sem-graça.
Mas, por um segundo, te acho engraçado.
E, no dia seguinte, te acho bacana.
Pra falar a verdade, eu te acho é bonito.
E, neste exato segundo, eu te daria um beijo.

Era pura paixão enrustida.

domingo, 26 de junho de 2011

Águia

Pedi tanto a Deus pra minha vida mudar, e mudou que nem vi. E, quando vi, foi de repente e levei um susto. E, agora, estou indo embora.

Devo ser adulta, afinal. Passado o impasse, é hora de futuro. Não sou mais aquela garota de 17 anos que nunca havia pegado um ônibus sozinha; tomo minhas próprias decisões e assino meu nome. E nunca pensei que ser adulta desse tanto trabalho, e que responder por si fosse tão... burocrático. Mas a vida muda, afinal de contas. Muda a gente. Muda tudo.

Como disse Bono Vox, o amor é a única bagagem que se pode levar. É tudo o que não se pode deixar para trás. Nessa ou em qualquer outra viagem. Neste ou no outro mundo. Em qualquer dos mil mundos que ainda me esperam. Isso nunca vai mudar. O resto, muda tudo.

Não sou mais a mesma. Mas ainda sou e sempre serei a mesma. A mesma contradição que me faz tão imperfeitamente humana. Muitas identidades, muitas culturas, muitas mulheres em uma só. Assim somos eu.

E tudo o que eu sempre quis está começando a se concretizar. Mas só vou me dar conta disso quando entrar naquele avião.

Um dia, alguém me disse que sou uma águia. Mas não quero ser águia apenas por voar alto. Quero ser águia para espalhar minhas penas pelo mundo.

Não estou com medo. Eu nasci pra isso.

domingo, 5 de junho de 2011

Impasse

Não sei se caso ou se compro uma bicicleta.
Se corto curto ou se deixo crescer.
Se uso salto ou se uso tênis.
Se faço ou deixo de fazer.
Se falo o que sinto, ou se espero você falar.
Se faço do meu jeito ou se deixo rolar.
Se isso foi um "sim ou se foi "não".
Se o seu "pra sempre" é só até amanhã.
Se saio ou se fico em casa.
Se te beijo ou se te ignoro.
Se pinto ou se corto as unhas.
Se arrumo um emprego ou se termino a faculdade.
Se viajo ou se fico pendurada.
Se vou para a cama ou se vou à Roma.
Se enlouqueço ou se me comporto.

Não sei se não sei ou se, lá no fundo, eu sei é muito bem, mas não quero encarar.

E vou, devaneando em minhas bolas de cristal, arriscando palpites, fingindo bem. E vou, tecendo meu futuro em eclipses insanas, jogando alto e calculando probabilidades.

É o não-saber que me faz viva, afinal. E continuo não sabendo no que vai dar - pois, quando o souber com tanta certeza, já terei enterrado minhas ilusões.

E iludir, meu bem, é o que a vida faz de melhor.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Antes daquele beijo

É irônico pensar em como um beijo pode estragar tudo. Uma amizade de anos, um dia inteiro.

Você me ensinou a ser mulher de novo. A descobrir um outro lado de mim mesma. Naquele vestido preto, naquele batom vermelho, memórias de uma madrugada. Conversando, como bons amigos, como sempre. E, de repente, tudo mudou. Quando você me tocou. Quando me descobri querendo te tocar também. Quando, não se sabe como, nem por onde, aquele beijo aconteceu. E se repetiu tantas e tantas vezes, por tantas e tantas noites, sem saber no que daria. A gente seguia se beijando torto, sem hora, sem rumo, sem direção, sem propósito, sem querer. Mas a gente quis.

E eu parei quando você continuou. A gente passou do prazo do envolvimento. Não ia funcionar e não funcionou, mesmo. Eu e o resto do mundo tínhamos razão: a gente não tem nada a ver. Não daria certo. Meu mundo, seu mundo. Os velhos amigos de sempre. A escola e a cidade pequena. Suas ligações bobas de madrugada na minha adolescência. Seu cheiro e sua temperatura. Tudo se mistura e me entorpece mais do que eu gostaria de admitir. E, tudo acabado, tentamos conversar. Mas sempre fica alguma coisa. Sempre fica um silêncio no ar, um beijo subentendido, um resto de desejo. E minha resposta é sempre "não sei bem o que quero".

Por quê?

Talvez porque, bem lá no fundo, eu ainda sinta sua falta. Como a gente sempre foi. Como a gente era antes. Antes daquele beijo.