sábado, 28 de agosto de 2010

BOOM!

Às vezes, minha vida parece uma bomba-relógio. Mil contagens regressivas, até eu mandar tudo para o espaço.

Contagem regressiva para ir para casa.

Contagem regressiva para o meu aniversário.

Contagem regressiva para o show do Switchfoot.

Contagem regressiva para o fim do semestre.

Contagem regressiva para a formatura.

Contagem regressiva para ir embora.

E o que mais? Às vezes, a vida dá medo. A gente não sabe bem o que virá depois da bomba.

E, quando a vida é sua, você não pode correr. Você não pode fugir.

Porque, se a contagem fosse progressiva, talvez o fim viesse primeiro, e, depois, desse para começar tudo de novo.

É que, às vezes, eu bem que queria um recomeço.

Nem precisa comentar. Não faço sentido.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Oito e oitenta.

Preciso de algo que me faça perder a hora.

Mais do que beijo de cinco minutos, mais do que uma noite na pista de dança, mais do que perder o controle com um violão nas mãos, mais do que mexer no cabelo de alguém.

Preciso descobrir a América e inventar a roda. Ou, quem sabe, me reinventar.

Todo mundo sabe que lugar de louco é na revolução. E louco que se preze sabe se fazer ouvir. Porque louco maior ainda é o acomodado. E a razão nem sempre é a melhor saída.

Cansei de oito ou oitenta. Cansei de escolher.

Porque, às vezes, o meio-termo é menos óbvio e mais eficaz.

Por favor, não me dêem ouvidos. Sou um falso Picasso na fase rosa-azul. É loucura, e muito mais complicado do que se pode imaginar.

Porque o complicado me intriga, e o não-óbvio me faz bem.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Caro desconhecido,

Não sei grande coisa sobre a vida. Sobre política, sobre futebol, sobre o clima. Se quer saber, não tô nem aí pra paçoca.

Não sei grande coisa sobre você. Mas de uma coisa eu sei:

você me bota maluca quando bota aqueles óculos.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Bilhete


Tive um sonho noite passada.

Eu estava de volta ao colegial, à velha escola onde estudara.

Outro dia, outra manhã; as mesmas coisas de sempre, o mesmo lugar onde costumava me sentar, a lousa suja de giz.

Foi quando recebi um bilhete muito pequeno, dobrado cuidadosamente em papel dourado.

E, quando abro, leio o que se tornou um mistério para mim:


“Descobri que você estava certa, e admito: TE AMO, apesar desse teu jeito.”


“Apesar desse teu jeito”. Apesar da ironia daquela frase. Apesar da verdade daquele “TE AMO”. Apesar de aquele “TE AMO” ter vindo cedo demais. Apesar de eu não ter entendido nada, e de achar aquilo tudo um absurdo. “Certa” de quê? Apesar daquela estranha surpresa vinda não se sabe de onde, de alguém que não pertencia àquele lugar, de alguém que estava longe demais para fazer qualquer declaração.

Estremeci. Por alguma razão (e, veja bem, não sei por que razão), eu soube, naquele instante, que aquilo era o que havia esperado a vida toda. E o que, no mundo real, ainda espero.

Acordei com aquelas palavras, que ainda ressoam com o peso de uma verdade em mim. Apesar de mim, alguém me ama, afinal. Apesar desse meu jeito, meus defeitos, e das circunstâncias. É um tipo de amor que não mereço; por isso, vale mais. Esse tipo de amor, a gente não entende.

E já não faço a menor questão de entender. Sou amada; nada mais importa, nada mais se explica.

sábado, 14 de agosto de 2010

Furta-cor



Texto baseado no clipe "Dare you to move", Switchfoot

Estavam os dois, deitados na grama.

Dezesseis anos, vizinhos. Tão iguais, tão loiros de olhos claros. A tarde caía, e as nuvens tingiam o céu de um tom engraçado, furta-cor, preguiçoso e indefinido.

Embora se conhecessem tão bem e há tanto tempo, de uns tempos para cá, começaram a sentir vergonha um do outro. A não saber bem o que dizer. A sentir o rosto arder de forma estranha só de pensarem um no outro. Sim, aquilo era estranho. Mesmo assim, continuavam amigos. Continuavam a se encontrar todas as sextas-feiras, ao cair da tarde, no gramado do parque.

Mas, naquele dia, ele sentiu que precisava entender o que se passava.

Lado a lado, estendidos na grama. Falando de sonhos e coisas corriqueiras. E, quando as palavras faltavam, ela sorria.

Ele precisava se mover. Precisava tomar uma atitude, de uma vez por todas. Até quando iria esperar? E se a vida passasse, ou algo os separasse antes que ele tivesse tentado?

E, enquanto observavam o céu em silêncio, deslizou a mão pela grama, tão delicadamente, que ela nada percebeu, até sentir sua mão sendo tocada de leve pelas pontas dos dedos dele. Ela, paralisada, não sentiu a menor vontade de recuar. O sorriso ainda estava ali; o coração, não se sabe mais onde; a cabeça deve ter se perdido em algum lugar do espaço.

E foi assim que, ao surgir da primeira estrela céu, duas mãos finalmente se entrelaçaram.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Cansei desse planeta.

É, é isso: cansei desse planeta. Quero criar um novo. Aliás, sempre quis. Como isso ainda não é possível, criei um blog. Ou melhor, um canteiro de rosas. E, a cada vez que venho aqui, me esqueço de tudo o que pensei em escrever antes. E, mesmo que fosse capaz de me lembrar, minhas mãos não permitiriam que eu dissesse nada além do que elas disserem por mim.

Quando venho aqui, também me esqueço de que há um mundo lá fora. Na verdade, eu até me lembro, mas sinto como se as cores estivessem cobertas por papel celofane, ou como se eu olhasse através de um espelho d'água - meu reflexo embaçado, minha identidade apagada. A atrevida inventora de textos guarda a menina doidinha no bolso e vai viver, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Mas que, na verdade, é um absurdo. É um abuso.

Mas a inventora de textos não pede muita licença, não. A menina tem mais o que fazer da vida além de vir aqui regar as rosas. A inventora tem pressa; as rosas têm sede. A menina que espere, a curiosidade que se sacie, as rosas que se deliciem o quanto quiserem.

Sei que não deveria estar aqui.

Sei que as vozes chatas do tempo perdido e das obrigações me chamam.

As inseguranças, as mil-e-uma possibilidades de futuro. Ou, tão-somente, o medo de não poder escolher.

O medo de ser escolhida.

E quem, ou o que me escolheria?

Para que me escolheriam?

Tanta gente não tem escolha. Mas e se a escolha fosse eu?

Qual o jeito certo de se medir o futuro? Minutos, segundos, etapas, dias, anos, conquistas, ações? E o tempo, como medi-lo? Relógio, calendário, passos na areia, batidas de coração, gotas de suor, pensamentos, rugas? E os sonhos? Se medem por sorrisos, lágrimas, indagações, questionamentos, possibilidades?

Se pudesse escolher, escolheria um planeta novo.

Depois de todos os meus questionamentos, penso que mereço chegar em casa. Penso que mereço um planeta e todas as suas estrelas. Penso que quero apanhar todas as gotas de chuva e todos os flocos de neve com a língua, recolher as nuvens e vestir os dias azulados. Penso que os sóis e as luas, assim, todos juntos, ficariam muito bonitos no cabelo, e que o pó do céu faz os olhos mudarem de cor.

Eu quero criar meu próprio universo. Não, eu não pertenço a este lugar.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Coisa de menino

Chegou em casa, na ponta do pé. O coração ainda pulava para fora do peito, as borboletas forravam-lhe o estômago, o suor escorria. Não sabia se tinha feito certo. Não sabia se devia ter esperado. Não sabia se era certo, se era errado. Só sabia que era bom.

Cansado de novelas, e filmes, e histórias que as pessoas contam, decidiu descobrir por si mesmo qual era a graça.

Mas, apesar de todo o nervosismo, voltara para casa numa nuvem. Porque foi bom. Foi estranho, depois foi quente, depois foi bom. E continuou sendo bom. E foi a coisa mais absurda que já lhe havia acontecido.

E, por isso, estava se sentindo tão homenzinho. Seguiu direto para o banheiro, roubou a lâmina do pai e se barbeou.

Afinal, já tinha doze anos e tinha acabado de beijar na boca.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Nada demais.

Chuva e frio, esmalte azul. Uma vontade de mudar o mundo de repente. E coisas que ainda estão por vir.

Ontem, hoje e amanhã. Coisas que esqueço de escrever. Amigos, corações, vidas transformadas, loucura. Palavras, imaginação, surpresa, epifania. Futuro. Dúvidas, suposições e esperanças. Correria, sacrifício, gente nova, gente velha. Gente. Música. O show que nunca chega. A vontade de te conhecer um pouquinho mais a fundo, a vontade de me convencer. Lembranças engraçadas, vitórias e aprendizados. Amigos. Grandes amigos. Pessoas que aprendi a admirar. Circunstâncias. Imaginação.

E, com tudo isso (mais do que tudo isso), uma enorme gratidão.

Não é pra fazer sentido. Nunca foi, nunca será.

A gente só sabe o que a gente sente. De resto, não sei de mais nada. Nem preciso saber.