Era uma senhorinha idosa, daquelas típicas de bom coração. Todas as sextas-feiras, esperava ansiosamente pela visita dos "guris", como ela os chamava. Usava um lencinho colorido, cobrindo os poucos cabelos que tinha, e um vestido maltrapilho. Sorria um sorriso de poucos dentes, mas de muita sinceridade e simpatia.
Madá e Niko já foram entrando, sem cerimônia nenhuma. Já eram "de casa". Ao encontro deles, correu a menininha, netinha daquela senhora. "Oi tia!", gritou, ao ver Madá, que abriu os braços para ela. Enquanto isso, Niko correu até o quartinho escuro e úmido, para dar os remédios ao velho Damião, cardíaco e preso a uma cama - um colchão de espuma coberto por um cobertor corta-febre. Não havia luz elétrica; tudo era iluminado por velas.
O casebre era quase inabitável, mas havia melhorado muito desde que Madá e Niko começaram a ajudar aquela família. Era uma família incompleta e humilde: Damião e a velha Jocasta perderam a única filha e o genro numa chacina. A filha do casal, Maiara, conseguiu sobreviver, e foi entregue para ser criada pelos avós, pobres e sem-teto. É uma família rotulada naquela cidade como "os sem-teto", "os ciganos", "os inválidos". São considerados a escória da sociedade. E isso despertou a compaixão em nosso heróis, que passaram a fazer de tudo para ajudá-los. Mas precisavam manter segredo sobre sua missão, pois aquela pequena cidade destilava preconceito. Ajudar os "sem-teto" seria considerado um ato de vandalismo, audácia e rebeldia.
Mas aqueles dois não se importavam. Mantinham o segredo, para que a paz fosse mantida naquele lar. Ironia ter que esconder-se para fazer o bem, numa sociedade que busca viver de aparências e falsa filantropia.
Além dos alimentos, Madá e Niko haviam trazido cobertores e agasalhos velhos; tudo o que conseguiram juntar de seus armários. Enquanto Niko ajudava os velhos com os remédios, Madá dava banho em Maiara - com uma toalha molhada, já que na casa não havia água. E terminavam a madrugada juntos, conversando sobre qualquer coisa com os velhos, ouvindo-os, oferecendo-lhes amizade e amparo para sua solidão. A menina adormecia no colo de Madá. A madrugada findava, e os jovens deixaram a casa antes do amanhecer, com a sensação de missão cumprida. Madá sorria. E isso se repetiria por inúmeras e inúmeras madrugadas de sábado, até que as barreiras da ignorância e dos rótulos fosse derribada naquela cidade. Não se importavam com o perigo: para eles, o maior perigo era ver uma família definhar por falta de amor.
Talvez o leitor esperasse um romance romântico, ou uma missão "impossível", cheia de adrenalina e efeitos cinematográficos. Mas há, porventura, missão mais honrosa que a de Madá e Niko, que é amparar o desamparado e prover o necessitado? Quantas "Madás" e "Nikos" você conhece?
E você? Qual é sua grande missão?
FIM
13 comentários:
Mutio legal o blog :)
Amei as cores, e o post tbm!
Bjx e até a próxima.
muito bom seu texto.
Realmente é muito raro encontrar, nos dias de hoje, pessoas como seus personagens mas, se cada um fissesse a sua parte e esqucesse dos preconceitos da sociedade, seria mais fácil,não acha?
parabéns pela iniciativa, jovem... a maioria dos futuros jornalistas (como eu) só começam a agir a partir do terceiro ano do curso. Continue assim.
Eu não conheço ninguém assim. Talvez eu nunca faça algo desse tipo. Sou daquele tipo "Viva e deixe morrer"
até...
massa seu blog moça! :D
essas lendas urbanas são de sua autoria?
- Beeijão :@;
meu blog:
[http://blogdapriih.zip.net/index.html]
texto reflexível. gosto mto disso, o próblema é que hoje em dia, nem sempre quem precisa, precisa. não é apenas o fato de precisar, mas de se aproveitar de quem ajuda. as madás de hoje seriam capazes de esperar o ajudante dormir pra pegar o dinheiro na carteira dele... sim! ainda possuem pessoas dignas e que realmente precisam de amparo! e à essas pessoas dou meu total respeito e condições! cabe a nós analisar quem realmente honra nossa ajuda e quem não o faz! abração muié, vc tem um dom de escrever, esse do é maravilhoso por tanto, continue aprimorando ele mais mais! blog nota dez! ^^
minha grande missão é continuar sobrevivendo a cada dia.
Minha missão...
Estou tentando descobrir, mas acho que é tentar colorir a vida de muitos (e cuidar para que a minha não desbote!)
http://sodaindie.vilabol.com.br
É ser o que eu ainda não sei o que quero.
Fazer a sua parte, pode transformar o mundo. Se bem que nossa realidade é mais para a ganância e o ganho a todo custo. Faltam mais pessoas assim. Um belo texto.
São coisas que não vemos noticiadas na tv, não é mesmo? É difícil ser altruísta nesses dias, com a massificação e o consumo de certos "valores"...
Anyway, Como foi o vestibular?
^_^
Muito bom o texto,gostei muito!
:D
Boa história !
Muito legal de você ter escrito um texto deste genero ao invés desses clichês que estamos acostumados a ler.
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