sexta-feira, 20 de junho de 2008

Sub-letteri


Escreve. Cala a boca e escreve.


As palavras me pilotam como a um trem desgovernado, à batida da batida perfeita, mortífera ou vital, imprevisível e surpreendente, da qual sangrarão letras enigmáticas, cadafalsos dos poetas apaixonados, dos marinheiros naufragados, dos desatinos do espírito.


Uma orla rasgada no vestido de cetim. Era novo. Era de festa. Era pra hoje. A realidade de um conto de fadas. O ar me quer rasgar o peito, o peito quer bordar para si um coracão. Processo dolorido, vital e imprescindível.


E eu sigo voando, voando pelos trilhos de uma terra já explorada. Nenhuma surpresa, nenhum mistério a desvendar, nenhuma mocinha a resgatar. Mas a expectativa continua lá, a sangue-frio-treme-boca.


Sonhar é pouco para mim. Deixa eu me sujar de batom, me tingir de terracota, me entrelacar nas sedas e nas tranças e nos lábios, ir morar nas casinhas de botão. Hoje. Somente hoje preciso ultrapassar a barreira do sonho.


O futuro é previsível como um trovão. Ainda assim me rio, porque relampeja e me alumia as idéias. É em sua direção que eu corro, num trem cujo rumo se desconhece, mas cuja fugacidade me faz mover com toda a força da alma. Ele pode ser quente demais, frio demais, ou só um recorte amassado de papel laminado. Mas, certamente, será incrível. E eu hei de sair viva de lá. Ou, tão-somente, eternizada.

Um comentário:

Gauche disse...

"As palavras me pilotam como a um trem (...)"

Também sou governada pela força das palavras. Nelas encontro veracidade; nelas encontro a realidade que preciso. Refugio-me para o mundo das idéias, e lá, ao encontro delas, vejo que nem tudo está perdido. E percebo que essa dimensão, que damos o nome de mundo; de vida [?], não passa de uma falsa realidade, comparada à profundidade que encontro mergulhando nas profundezas das palavras.

Condenso-me em letras, sons, imagens e, deste modo, (re)significo-me.

Belo blog!