segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

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Andava pelas lojas, à procura de presentes. Guardanapos para vovó, perfume para mamãe, um livro para papai e, talvez, um ou outro regalo para os primos. Agradar a todos torna-se uma tarefa difícil no Natal, e já vi que os descontos não são, assim, tão vantajosos. Ah, lá se vai meu décimo-terceiro.

Guirlandas de mau gosto espalhadas por todo lugar. Um caminhão de papais-noéis – literalmente – inchava as ruas, e os sorrisos das crianças, e a paciência dos adultos. Roupas polares, nem sombra de neve no calor do Brasil, nem chaminés nas casas para se mergulhar. Pisca-piscas, corre-corres, empurra-empurras, gasta-gastas. Suspirei. É, o Natal estava lá, como sempre esteve, todos os anos, desde que me conheço por gente. Desde que o mundo é mundo? Desde que inventaram tudo isso? É, acho que sim. Aliás, acho que sou mesmo um cético.

“Então é Natal, e Ano Novo também...”, cantava o CD numa loja de sapatos. Coisa indigesta. Panettones, perus e sidra. Aparências, é claro. Faz parte do teatro do Noel, não é? Fingir para as crianças, quando os adultos já estão se enganando. Ver como a tia engordou. Ver o namorado novo da prima. Ver o carro que o tio comprou. Ver aquele primo picareta repetir de ano pela terceira vez. Mas eu não fico por baixo. Aliás, ninguém vai ficar por baixo. É Natal, tem aquela coisa de filantropia, fraternidade, não tem? Então, melhor deixar quieto e sorrir por cima das mágoas. Sorrir engasgado, mas, enfim, não devemos sorrir sempre? É tão mais bonito esse mundo de plástico e luzes. Mais cômodo. Mais como eu queria que fosse, como nos filmes natalinos cheios de neve da Sessão da Tarde.

“Oi!”

Me virei, para ver de onde veio esse sonzinho agudo, tão musical. Vozinha de criança. Não vi nada, abaixei a cabeça. Lá estava ela. Devia ter uns seis anos. Nenhuma beleza extraordinária, mas era o que costumamos chamar de uma “belezinha de criança”. Por que raios estava falando comigo, não sei. Apesar de não estar com paciência para sorrisos e cortesias, resolvi dar-lhe corda. Afinal, é Natal, não é? Acho que é assim que se deve agir nessa época.

“Oi.” Sorri-lhe de volta.

“Tá comprando presente pra quem?” Carinha de pau. Que gracinha.

“Pra todo mundo. Eu acho.” Não estava muito certo do que estava fazendo, mas...

“Ah.” Respondeu, sorrindo rápido. “E você, não tem presente?”

“Pra mim?” Ri, confuso. “Acho que não fui um bom menino este ano... Mas espero que o Papai Noel me dê um desconto, de qualquer jeito.” É assim que se fala com crianças de seis anos?

Ela ergueu uma sobrancelha, desconfiada, desafiadora. “Um homem desse tamanho ainda acredita em Papai Noel?”

Perdi a fala. Acho que não levo mesmo o menor jeito com crianças. Mas ainda podia salvar a conversa.

“Er... não, mas achei que você... você não espera presentes este ano?”

“Claro que sim!” Respondeu, com um enorme sorriso. “Mas isso não é o que realmente importa. O que importa é a festa, ou melhor, o dono da festa!”

“Mas você não me falou que não acredita em Papai Noel?” Ainda poderia desarticular essa criancinha prodígio, afinal.

“Ele não é o dono da festa, e não foi ele quem me deu o presente.” Respondeu, como se eu fosse a criança e ela estivesse tentando me explicar algo realmente complicado. Aff!

“Eu pensei que você ainda estivesse esperando o seu presente. Quer dizer, você tá aqui na loja...”

“Não esse presente.” Mas que coisa! Afinal, por que uma criança, do nada, viria me importunar durante minhas compras de Natal? “O presente que o dono da festa me deu. O maior de todos!”

Fiquei esperando que ela continuasse. Não estava entendendo mais nada.

“O presente de verdade não custou dinheiro. Custou sangue. É uma coisa muito maior e mais bonita que todo o amor desse mundo. É a prova mais viva de que Deus se importa com a gente. O dono da festa não é aquele velho barriga-de-travesseiro! Ele não andava de trenó, andava à pé. Ele não nasceu no Pólo Norte, nasceu numa manjedoura. Ele nasceu, é por isso que estamos aqui. Ele morreu, é por isso que a gente ainda tem jeito. Ele morreu por causa da gente. Gente como essa, que come até passar mal na ceia. Que tampa o vazio das coisas com guirlandas e árvores. Gente como você, que não lembra mais Dele, e comemora o Natal nem sabe por quê!”

Saiu, batendo o pé, mas com cara de dever cumprido.

Menininha insolente. Pensei em segui-la, mas ela já havia desaparecido na multidão. Insolente por que me distraiu das compras, ou por que falou uma verdade dolorida dentro de mim? Dentro de nós?

Ao longe, um presépio. A manjedoura estava vazia, estavam pensando em pôr algo mais a cara do Natal, um Papai Noel, talvez.

Não desejo Feliz Natal pra ninguém este ano. Desejo apenas um NATAL puro e simples a todos. Não perca o foco. O foco é JESUS, que nasceu, morreu e ressucitou por mim e por você!

Natal, galera. Natal!

4 comentários:

Sam disse...

Infelizmente, o natal tá virando "apenas mais um jeito de se ganhar dinheiro".

Coitado do aniversariante... :(

Beijos
E... Natal, né? ^^

Marcus Alencar disse...

É realmente lastimável ver datas como essas se tornarem cada vez mais comerciais, fora a hipocrisia que se instala em algumas pessoas que decidem uma mudança de atitude em nome do natal, depois da meia noite, todos voltam ao normal, não é? Mas o mundo visto pelos olhos de uma criança é sempre mais interessante e bonito, pena que pouco se mantém desse olhar em todos em cada um de nós.

Izabela e Julia disse...

eii
adorei o seu texto!
aqui, posso fazer uma perguntinha?
voce está lendo midnight sun na versão completa? Ela existe?
é que eu tive a impressão, lendo alguns textos, que a Stephanie não ia lançar o livro inteiro tão cedo, mas pelo visto ele já existe né?
beijinhos e um feliz 2009 pra vc

Larissa e Marisa Wanzeller disse...

goostei muito do seeu blog :D