segunda-feira, 21 de junho de 2010

Amor em jogo

Os dois espremiam-se no sofá. TV ligada, verde-amarelo, rojões. Copa do Mundo. Brasil x Portugal. Não era bem o que se pode chamar de um típico programa de dois jovens recém-casados, recém-formados, vinte e poucos cada um. De um lado, ele, torcedor fanático. Roxo. Patriota. Do tipo que sabe todas as escalações e todas as terminologias futebolísticas possíveis e imagináveis. Machão no último grau, louco para molhar a garganta antes do jogo começar. Do outro, ela, toda mulherzinha, pintava as unhas de cor-de-rosa, a pinça e o espelhinho apoiados no braço do sofá, prontos para serem usados em seguida. E, de futebol e Copa do Mundo, ela só entendia duas coisas: Kaká e Cristiano Ronaldo.

E aquilo o deixava louco da vida. Não queria ter que competir com dois caras mais ricos e mais musculosos do que ele, por mais platônica que fosse a tal paixonite.

Enfim, até relevava. Sabia que aqueles dois bonitões-ricos-pra-caramba-do-outro-lado-do-oceano não representavam ameaça nenhuma. Afinal, tinham acabado de se casar e estavam ardendo loucamente um pelo outro. Sem contar que o Kaká nem ia jogar dessa vez, mesmo. Um a menos para dar trabalho.

E a graça do jogo estava mais em estarem juntos do que em qualquer outra coisa. Se bem que ele levava aquilo muito a sério. Futebol, para ele, era honra, sangue e tudo mais. O jogo nem tinha começado e ele já havia gritado tanto, que ela já estava cogitando a ideia de enfiar algodão nos ouvidos.

É claro que ela não ia dizer "calma, é só um jogo". Não, ela não estava a fim de uma DR, muito menos de um divórcio, com três meses de casada. Mas, vermelho como ele estava ficando, ela já estava começando a ficar preocupada.

Começou. O Hino Nacional. As caretas engraçadas que os jogadores fazem para cantar. As vuvuzelas cornetas incessantes. O CALA A BOCA Galvão Bueno. A seleção portuguesa.



O Cristiano Ronaldo. Irresistível. E a moça até borrou o esmalte.

"Aaaaaaaaaaaaaaaaah, meu Deus!!!!!!!!!!!!!!! Ele é LINDO de morrer!!!!"

Claro que ele não achou graça nenhuma, nem no esmalte borrado, nem no comentário infeliz.

"Então, por que você não se casou com ele?"

Ela, sem graça, parou de consertar as unhas.

"Amor... você sabe que não tem nada a ver. Relaxa. Ele é português, sabe? Nem faz, assim, tããão o meu tipo."

Foi o suficiente para ele surtar de vez.

"Você sabe que eu sou descendente de português, caramba!"

Ih, ferrou.

"Ai... é, né? Mas não tem nada a ver, tô falando que meu negócio é brasileiro, amorzinho."

"Ah, então, se fosse o Kaká, você queria, né?!"

Ela revirou os olhos e resolveu parar com aquilo antes que a coisa ficasse séria.

"Olha só, eu tô de TPM, não entendo lhufas de futebol, e só tô tentando acompanhar meu maridinho num programa que eu acho um saco, porque eu amo esse meu maridinho, ok? E só tô comentando sobre eles porque... bom, porque eu só conheço eles! E o Robinho. E o Ronaldo, né? Aliás, cadê ele?"

"O Ronaldo não foi escalado. Todo mundo sabe."

Ela fez beicinho.

"Eu não sabia."

Ele se sentiu culpado e tomou-a nos braços.

"Vem cá, gracinha. Desculpa."

"Shhhh, o jogo tá começando!"

[continua]

2 comentários:

Damaris . disse...

eu gostei do blog *-*
te seguindo, bgs
http://daaoliveira.blogspot.com/

Vicky Doretto disse...

hehe, adorei o texto! Inclusive a parte do Cristiano Ronaldo.. rs

desculpa o sumiço,

bjão =^.^=