domingo, 21 de novembro de 2010

Vilania

Saudade de te arranhar-céu
Caindo em tentação
Ou não
Surrupiando beijos
Arrepiando, nem um pio
Famintos
Lábios lambidos

E, com os mesmos lábios
Eu invento uma desculpa
Te peço perdão
A mesma desculpa
Aos farrapos
Aos disparos
Disparate

Saudade de te doer
De te ferir
Só pra eu me sentir
(teu bem, tão bem)
Do feito ao malfeito,
Amor rarefeito, desfeito
Num beijo de segundo

E, se eu te arranhar-céu
Não se arrepie - piedade!
Nem um pio, nem pão, nem água
Nem mais beijo, nem coisa qualquer
E eu me deixo escorregar,
Até me esborrachar no chão.

Não quero me prender,
Eu quero é te perder,
Só assim pra eu aprender
A deixar de ser ruim.

domingo, 14 de novembro de 2010

Meu amigo ruivo

Ele é daquele tipo de cara que sabe fazer ar de mistério. E que, por tanto tempo, eu subestimei.

Eu queria beijá-lo infinitamente ao som de ACDC, ou qualquer som ou rock'n'roll que combinasse com os arrepios e a aventura do momento. Desconstruí-lo por todos os avessos, entorpecê-lo com qualquer travessura lolítica. Qualquer coisa que continuasse me intrigando, e me impedindo de pensar ou de raciocinar direito, como naquele momento.

Não que eu soubesse bem como fui parar ali. As coisas aconteceram muito devagar, ao mesmo tempo que tão repentinamente. E ali estávamos - o beijo inesperado. A iniciativa foi dele, a surpresa foi minha.

A reação? Foi mútua.

E a gente não sabe bem como as coisas fugiram tanto ao nosso controle. Ele me segurava forte pela cintura, minhas mãos estavam firmes, cravadas na gola da sua jaqueta. Romance? Nenhum, nenhum, nenhum. Éramos amigos de longa data que perderam a noção do perigo e de como as coisas deviam ser. Inconsequentes por causa de uma traquinagem, desmedidos, alheios ao resto do mundo e da situação. As luzes dos postes e o ar da madrugada nos bastavam.

Não que soubéssemos bem o que estávamos fazendo, nem por que estávamos fazendo. O beijo explosivo, ruivo, avassalador, entrecortado por risos tímidos. A confusão do momento. Um turbilhão de pensamentos que se esvaía, borrado, em meio às sensações.

Mas ser bom só enquanto durou não faz bem o meu tipo de aventura.

"E aí, quando a gente vai se ver de novo?"

sábado, 6 de novembro de 2010

Inércia

A gente quer desistir e não consegue.

É que dá medo de viver morrendo por aí, deixando a vida passar. Ou achar que quem vive mais é quem tem mais fotos no Orkut, é quem não para em casa, é quem não perde uma festa... A gente se esquece do quanto tudo é tão superficial.

Se você vive bem com a ideia de ser só mais um, tudo bem. Pois eu não consigo. Me formar, ganhar uma grana, me casar e ter filhos, fim. Só isso? E o que vem depois do "felizes para sempre"? Ninguém me respondeu ainda. A gente não se surpreende mais.

E tem os erros que precisamos cometer, porque, se não provarmos o gosto do veneno, não saberemos qual será a dor, nem se ela vale a pena. Pode não ser a melhor escolha, mas, às vezes, é a única que nos vem à cabeça.

Não é medo, é inércia. A vida pedindo pra ser sacudida. Pra ser pega pela cintura de surpresa, fazendo arrepiar o corpo inteiro. É esse o sentido da emoção: a vida pede paixão.

Mas é tão mais fácil ficar aqui e dormir...