sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Jeans e um par de asas

Gabriel dos Anjos. Nome que o definia por si só. Era, realmente, um anjo de jeans. Cabelos louros, cacheados, olhos cor de mel. Gostava de usar camisetas com estampas de asas e um crucifixo. Parecia que ele se assumia como anjo. Mas era parte de sua personalidade, ao mesmo tempo tão fugaz, selvagem e indomável. Gostava de andar sozinho pelas ruas e noites, e ver as manhãs nascerem, sozinhas, num lapso de aurora cor de sangue. Gabriel gostava da paz, do silêncio e do mistério. Usava uns óculos escuros, estilo "John Lennon", uma coisa meio hippie. Era do tipo de cara que faz você bater o olho nele e dizer: "com esse aí, eu caso!". Costumava, em suas noites solitárias e intermináveis, dançar no solar de um velho prédio, enquanto namorava a lua e as estrelas. Às vezes, desenhava uns retratos de moça. Era só uma moça, quase uma menina. Ele não a conhecia, mas queria conhecê-la. Quem sabe fosse ela a sua libertação, o seu impulso para rasgar os céus daquela cidade tão fria.

Gabriel não tinha amigos. Não por que não quisesse. Ele simplesmente não conseguia se relacionar com as pessoas, como se, realmente, não pertencesse a este plano terreno. Era sozinho, vinte anos, uma casa geminada num beco no centro da cidade. Ele torcia, torcia para que alguém viesse tirá-lo daquele buraco em que ele vivia. Não a casa, a própria vida dele. Apesar disso, ele sorria. Sempre sorria, um sorriso suave que ornava seu rosto de anjo. Era um Armagedom ferido, de asas partidas e punhos cerrados, precisando de impulso para alçar vôo.

Meia-noite. Atravessou a rua.

to be continued

6 comentários:

giulas disse...

adorei seu blog...parabens...

Ane disse...

Bonito... e curiosa para saber o resto!!hehe... =)

@HUGOCEREGATO disse...

História muito boa, e uma essência fantástica ao escrever. Gostei muito moça. É o tipo de escrita que entretem, como um filme.

Y a s h a disse...

Gabriel dos Anjos me lembrou Augusto dos Anjos.
Às vezes esperamos demais pelos outros. Esperar que alguém nos tire do cansaço da vida é apenas esperar, esperar e esperar... Ás vezes nós mesmos precisamos tomar uma iniciativa, e não sempre esperar pelo outro.
Que bonito ele sorrir diante disso, mas talvez por trás do sorriso suave houvesse um sorriso morno. Morno, apenas.

lido texto. ;*

Luccannus - Jesum Christum est semper! disse...

Retribuindo a visita...

Gostei do texto. Muito bem escrito, limpo e preciso.
História legal. Passa uma imagem interessante; pena que terá uma continuação e não dá p/ ler o resto agora...
Gostei do seu blog tbm, tem visual limpo, bem bonito.

Bjss e fique com Deus.

Willian Araújo disse...

Muito legal literatura em blog!

Voltarei a cheirar rosas por aqui!

beijos!