sábado, 6 de setembro de 2008

Sujeitinho esquisito...

Esquisito pá caramba. Tá ali, sentado naquela mesinha vermelha na calçada, ó, tá enxergando? É, esse comédia mesmo. Conheço não, só de vista. Nem o nome do dito-cujo sei. Tem cara de ser um desses filosofinhos de butiquim. Um desses que fumam e bebem café e uísque como o cão pra parecerem mais cult. Tipo depressão romântica. Chapéu caindo nos olhos, cabelinho revoltoso, meio sem corte, barbinha por fazer, paletó desmantelado por cima de jeans às nove da manhã, e uns mocassins "de véio". Nunca ri, nem chora, nem xinga, nem reclama, nem conta piada, nem fala de mulher. Livrinho na mão, caderninho e caneta, umas três ou quatro idéias na cabeça , e um fígado detonado pelo álcool e pelo ácido. Ácido das entranhas. Se faz tempo que ele vem aqui? Pffff... Des'que eu sou dono dessa espelunca esse cara vem aqui. Quatro, cinco anos. E esse cara tá sempre com essa cara de cachorro, de "mamãe não me quer, não tenho mulher, não tenho outra escolha". Se eu já conversei? Hááá! Aquilo lá nem é conversa, não. É um aglomerado de palavrão difícil pá caramba, que nem os bacanas que aparecem aqui pra tomar uma e pitar vez em quando entendem. O cara vive lendo uns livros esquisitos, sei não se lembro do nome daquela bodega... como que era...? Chopenháuer, não sei se é assim que fala? E tinha também um tal de Marvel, Maquivaldo, O Príncipe, o nome do livro eu inda lembro bem. Mas rapaz, olha, eu vô te contar uma coisa pra você, a conversa desse sujeito é muito esquisita. A gente que é, assim, mais desentendido, tenta aprender as coisas pra ver se cresce nessa vida, mas esse cara sei não se é muito sabido assim mesmo, ou se ele só faz tipo. Uma vez que eu sentei pra tentar puxar papo, o cara já começou com uns "enfim, entretanto, contudo", daí já viu, né? Se tem família? Eu nunca soube. Sei nem de onde ele tira grana pra ficar o dia inteiro aqui, bebendo, lendo e escrevendo. Outro dia, ouvi falar que é cronista de jornal. E acho que é só isso mesmo que ele faz da vida. Quando em vez aparece uma mocinha aí, bonitinha, mas da carinha de mosca morta, dessas que usam aquelas saionas hippie, parece até decentinha. Daí ela fica aí um tempão, eles dão uns beijos, e ela vai embora. Isso de vez em quando. Bem de vez em quando.

E ele continua ali, e só vai embora depois da meia noite. Pra voltar às nove da manhã e passar o resto da vida aqui. Vai entender. Sujeitinho esquisito. Esquisito pá caramba.

10 comentários:

jαnα muller disse...

Uuh...me senti atraída pela sua descrição do sujeito. Imagino ele; alheio as coisas ao seu redor, compenetrado na leitura ou na escrita, charmoso em seu mistério. Nossa, que texto envolvente! Conforme eu lia, me peguei imaginando qual seria a história por trás desses dias passados em uma mesinha vermelha, em frente a um bar :D


Abraços.
='-'=


http://nerdezasaleatorias.blogspot.com/

MatheusS disse...

É a vida de muitos, por mais incomum que pareça..
=)

Bar, Livros e afins..

Antonoly disse...

Ainda bem que na vida existem vários tipos de pessoas diferentes, já imaginou que tédio se todos fossem iguais a nós?

Marcelo disse...

Você já leu um conto chamado o homem que sabia Javanês. Vai bater com essa coisa qeu você falou. Um cara que quer aparentar uma intelctualidade que não tem... e acaba que tem gente que acredita.. até que...
Procure no Google... acho que é de Lima Barreto. Você vai gostar.

Patricia disse...

Olá!
Valeu por ter visitado, e comentado (n)o meu blog!
Volte sempre!
Bjus e bom resto d fds!

Homenzinho de Barba Mal feita disse...

O bar é muito inspirador, seja para poetas, cronistas e afins...
Gostei da narrativa, é bem interessante.

Parabéns!!!


http://hdebarbamalfeita.blogspot.com/

Lidi disse...

Olá! Parabéns pelo aniversário do blog, parabéns mais ainda pelo que li nesse texto. Muito bom, de verdade.
Queria poder escrever assim, como vc, que faz meus olhos escorregarem pelo texto e não mais querer parar de ler...
Senti um pouco de inveja do personagem, o tal sujeito estranho. Queria tanto poder passar o dia só lendo e escrevendo. Isso me faria bem agora.
Um abraço!

http://crazylidi.zip.net

Flá Romani... disse...

Gostei muito do texto :)

parabéns pelo post e pelo blog

Natália Coelho disse...

Legal sua forma de descrever a vida de uma pessoa.
Me pareceu um típico cronista de antigamente,um dândi, que não fazia nada além de sair pra rua e caçar assuntos para escrever e pensar.

Abraço

ROBINSON ROGÉRIO disse...

parabéns pelo aninho de vida do blog

é realmente as pessoas tem q ser elas próprias nah ficar aparentando uma coisa q nah são

bjus e abraços