segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Jules e Jill

Eu e Jill, abraçadinhos, observávamos a lua nova. Sexta-feira chata e a perspectiva de um fim de semana nada promissor. O que mais um cara sério e comprometido como eu poderia esperar de uma sexta-feira à noite?
Tá legal. A parte do "sério" foi mentira.
- Sabe de uma coisa, Jill?
- O quê, Jules?
- Espero que seu pai não te mande entrar mais cedo. De novo.
Jill riu. Ela já está meio que acostumada com essas regras esquisitas para namoricos que os pais inventam. Enrolou cuidadosamente um cacho negro dos meus cabelos (é, eu já queria cortar, mas ela me disse que gostava assim), e me deu um beijinho no rosto barbado de dois dias. Faz três meses que a gente namora, e eu sou seu primeiro namorado. Na verdade, ela também é a minha. Ela tem quinze, eu, dezessete. De repente, assumi um ar grave na minha cara de bobo apaixonado.
- Que foi? - perguntou Jill.
Olhei nos olhos dela o mais fundo que pude. Eu já estava começando a ficar bom nisso, embora não passasse de um desajeitado tentando ser um pouco romântico.
- Jill... promete que vai ficar comigo... pra sempre?
- Pra sempre - repetiu. Ora, o que é que ela estava esperando?! - Dizem que o "pra sempre" sempre acaba.
- Jill, você me ama? - perguntei, ansioso. Eu sei que a gente só tem três meses, tá legal? Mas é que eu já estou começando a gostar demais, demais mesmo, dela.
- Amor - repetiu, de novo. Aquilo já estava começando a me irritar. Eu queria logo uma resposta, e ela parecia não falar coisa com coisa - Uma vez me falaram que amor é só uma coisa que inventaram nos livros.
- Hum?
- Você sabe, aquelas histórias todas de "felizes para sempre", corações saindo dos ouvidos das pessoas, beijos na chuva, filhos e rosas vermelhas.
- ...
- E borboletas. No estômago.
Emburrei, a tromba desse tamanho. Ultraje ao meu romantismo tão bem engenhado.
- Que foi?
- Nada, absolutamente - respondi. Ela acha graça quando eu falo esses advérbios e conjunções tão formais para o contexto, ou para um cara da minha idade. Sarcasmo pode até ser bem útil quando se tem uma namorada indecisa, ou quando se quer só ganhar uns beijos a mais.
E não é que deu certo? A segunda parte, pelo menos.
Depois de ficar meio entorpecido com aquele beijo, ou, talvez, com o sabor do seu brilho de cereja (e eu devia estar com cara de otário, para variar - ela sempre consegue fazer isso comigo!), voltei parcialmente a mim e, com um pigarro, prossegui.
- Como é? Eu sou ou não sou o homem da sua vida?
Sim, eu sei ser profundo. Pelo menos, eu acho que sim.
- Jules...
- Sim?
- Você só tem dezessete anos.
Recuei, constrangido. Mesmo assim, não perdi a linha.
- Pareço menos homem pra você?
- Hum... não. Na verdade, você é quase o dobro do meu tamanho.
- Um e oitenta e dois - assenti, orgulhoso, apesar de não passar de um varapau - Mas você não me respondeu.
- Ah, sabe... não sou como as minhas amigas, que vão falando aquelas coisas de romance que, no fim, não dão em nada.
Entendi, entendi. A baixinha, apesar de parecer mais uma boneca de porcelana, tinha um bocado de razão. Parecia até ajuizada para uma menina do primeiro ano. E é isso o que me deixa doido.
- Mas você - continuou - você é o meu tipo de cara... predileto - e sorriu, com covinhas.
Aquilo, sim, me deixa completa e irreversivelmente doido.
Terminamos a noite aos beijos, interrompidos às dez pelo Sr. Thompson, que chamava a filha para dentro. Um selinho rápido, enfiei as mãos nos bolsos e segui para casa, a cinco quarteirões dali. Seguindo a avenida, comecei a pensar nela de novo. Achava só que ela precisava de um pouco mais de loucura e romantismo para se livrar de todas aquelas idéias baratas e adultas demais para o meu gosto.
Mas cara, vou te contar: ô, mulherzinha difícil!
Tudo bem, tudo bem. Ainda decifro essa, antes que ela me devore. E ela já começou pelas beiradas.

4 comentários:

Nery, disse...

Pois é, no fim, são as mais difíceis que conseguem seu verdadeiro amor, apaixonado e sincero primeiro. Agora essa dificuldade, está deixando de ser uma realidade hoje :T Tudo isso está virando um conto, como esse no blog.

http://ozzyplace.zip.net

@Tay_Guedes disse...

perfeito doidooo!!
kd o resto?!continuação?!!publica um livro!!

sou parecida com essa garota....=/
num consigo ser sentimental....num dá!

bjus
http://taynalu.blogspot.com/

Mah (Mayra Lobão) disse...

Oi! Eu também sou do Tudo de Blog e precisava falar com você... Tem como você me mandar seu e-mail? Tenho uma novidade pra você :) Meu e-mail é mayra.lopi@gmail.com

Bjinhos

klinsffelter disse...

Gostei muito do teu blog, extremamente sensacional. Principalmente este.