sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O brigadeiro

- Jill...
- Humm?
- Vem cá, dá um beijo.
- Que que é?! Que que tá querendo? Que que tá aí, cheio de gracinhas pra cima de mim, hã? Ah, garanto que tá querendo alguma coisa. Palhaço.

Caramba. Que bicho mordeu ela hoje? Estávamos sentados os dois no sofá da sala, na casa dela, vendo TV e namorando. Quer dizer, tentando. Ela, um bocado emburrada, só tinha olhos para o Bob Esponja. E eu, ali, ficava a imaginar o gosto do novo gloss dela.

- Caramba, Jill! O que é que você tem?
- Ih, nem vem, Jules, nem vem! Hoje eu não tô pra NINGUÉM, tá ouvindo? NIN-GUÉM!

Suspirei, profundamente desconsolado. Eu lhe dei um buquê, ela o jogou direto na lata de lixo. Ô mulher complicada, meu Deus do céu!

Hesitei. Ah, mas eu não ia deixar o Bob Esponja ganhar de mim, não mesmo! Peguei uma mecha do cabelo dela. Curtinho, repicado, vermelho. Fica lindo, lindo naquela pele branquinha. Minha Branca de Neve com um toque de limão, pimenta e canela.

- Ji...

Ah, que ótimo. Um grunhido como resposta.

- Ji, por favor. Se você quiser, eu vou embora. Se não tiver a fim de me ver...
- Tanto faz.

Aquilo me feriu, de verdade. Levantei do sofá, dei três passos em direção à porta. Estaquei, um puxão no braço. Ela teria que me dar um motivo muito bom para que eu permanecesse, ah, se teria!

- Não, Ju. Por favor, desculpa. Fica aí, vai, me faz companhia. Desculpa.
- Ah, tá. Você me trata que nem cachorro, e eu tenho que ficar aqui!
- Desculpa, Ju! De verdade. Não é nada com você. É... comigo.

Sentei, meio desconfiado. Ergui uma sobrancelha.

- O que é que tá pegando, Jill?
- Ah, é meio chato falar...
- Fala, Jill! Você é minha melhor amiga, e sempre me falou tudo!

Jill era mesmo minha melhor amiga, fazia uns dois anos já. A gente se conheceu nas férias quando eu tinha quinze, ela, treze, de jeans surrados, tênis encardidos e uma t-shirt que dizia: KISS THE PRESIDENT. Lembro que foi por causa disso que começamos a conversar, eu, rindo daquela frase, ela, explicando metodicamente a seriedade daquele protesto. Talvez não fosse nada contra o presidente, só um manifesto pró beijo na boca. Nossa amizade cresceu tanto, que virou amor. O primeiro amor, aquela coisa de louco, a amiga que virou namorada. Sempre tão molecona, tão impetuosa. Acho que foi isso o que me prendeu. Já estava cansado daquelas meninas todas iguais. Com a Jill não, com a Jill eu podia ser eu mesmo. E ela não deixava barato. Mas ah, eu pagaria o preço.

Sentindo o peso das minhas palavras e hesitando um pouco, soltou:

- Eu... tô de TPM.

Meu rosto queimou. Nem quero pensar na cor que fiquei. Acho que nenhuma mulher nunca chegou e me falou isso, nem minha mãe! Mas, não sei o que deu em mim...

Eu caí na gargalhada.

- Tá rindo do quê?!

Eu não conseguia responder, nem parar de rir.

- Ah, quer saber? Cai fora, seu grosso! Você não me entende, mesmo. Aliás, ninguém me entende! Será que eu não posso ser mulher em paz?!

Me recompus, já que o fogo dos cabelos dela já tinha torrado sua paciência. Abracei-a pela cintura. Foi golpe baixo. Não há mulher que resista a isso.

- Jill...

Ela amoleceu. Deixou-se cair nos meus braços, e eu consegui descobrir que o gloss novo dela era de menta. Incrível como ela é criativa!

- Que que é? - Ela tentava manter o tom irritado da voz, mas acho que já desarmei metade dele.
- Eu sei como te acalmar.

Ela me olhou, desconfiada e, ao mesmo tempo, desafiadora.

- Vai me receitar um calmante?
- Não. Vamos comer brigadeiro.

Ela me deu um beijo e saiu pulando pela casa, feliz da vida, rumo à despensa, à procura do tesouro escondido: o leite condensado.

Agora, me diz se eu sei ou não agradar às mulheres. Mesmo que vocês insistam em complicar a minha vida.

5 comentários:

Lissa disse...

Ai que fofo!

João Esteves disse...

Roubo então uma rosa suposição de que me qualifico para aqui comentar. Nada de inteligente tenho agora a dizer. Li obviamente este post e posso provar que o fiz de tantas maneiras que escolho ... nenhuma. Eu li, menina. Sempre leio os blogs aonde chego em minhas andanças pela blogosfera e é pra isso que faço essas andanças, pra ler blogs e o seu não é exceção.
Seu estilo é bastante casual e você me impressionou com um fato idêntico em tudo ao de outro blogueiro, este de mente admitidamente ilógica, onde você é visitante e comentarista logo antes de mim. O fato é de pessoa tão jovem interessar-se por tradução, que ocupa posição central em meus interesses intelectuais.
Achei bom ter conhecido seu blog e pretendo voltar aqui, para mais ler e ver.

Tailany Silva disse...

Ei, adorei o conto! Me identifiquei total... A TPM quando nos pega, hein? Mas nada como o amor para ajudar a melhorar! ^^

Dândala Mattos disse...

Aiiin que fofo *.*
^^

Lucas Oliveira disse...

caraca, gostei da história, Louise...
sardade d'ocê

bjo, tenha uma ótima semana!


Lucas de Oliveira
Jornal do Blog
O Renegado