segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Mais um brasileiro

Não quis tomar café, nem beijo de bom dia. Pulou da cama, vestiu os jeans e a camiseta, desceu as escadas, saiu. Só mais um dia, amanhã tem outro igual. Não estava nem aí para pontuação, pontualidade, educação ou o raio que o parta. Mais um dia daqueles. Daqueles aos quais já estava acomodado. Incomodado? Já se conformara. Que escolha teria? Dizer "não" na cara dura e ir para o olho da rua? Mas já estava na rua. Estava a caminho do pão de cada dia, sem amém, nem graças. Nem draminha. Porque importar-se é frescura - ocupava-se de, tão-somente, guardar para si a alma e o pensamento, poupando a energia para os pés, os braços e os nervos, blindados para não se esfrangalharem. Não, não tinha esse direito. Tinha uma família para sustentar. Não podia. Tinha. Tinha que continuar engolindo sapo e lambendo chão, contando os passos e as moedas dos passes. Era homem de desistir por capricho? Era pai, marido, brasileiro. Não podia. Tinha. Tinha que aguentar mais um pouco - o quanto esse pouco durasse. Os calos nas mãos, os passos no chão, o suor no rosto. Não era aquele o seu grande sonho. Mas sonho de pobre dá lugar à realidade, difícil e injusta. Dizem que a vida é mesmo assim. Foi o que disseram a ele. E ele já não se dava conta de que tornou-se o triste retrato de si mesmo, a caminho de todos os dias de sua sobrevivência.

Um comentário:

SHINE * disse...

Nossa você escreve muito bem, adorei esse post! a vida está dificil né? :x

sucesso vio? :D
beeijo