na tua rádio- relógio
de um mimetismo fantástico
Os olhos estavam pesados, o sol morno me dava uma comichãozinha chata e gostosa. Adormeci sob o céu nublado.
Fui a um lugar sem fim nem começo. As coisas pareciam estar fora do lugar. Meus pés não tocavam o chão, molenga, mesmo estando neles. As mãos conseguiam tocar o céu. Parece espuma e é gelado, brrrr! E eu era gigante.
(mas será possível?!)
A rua era feita de grama, e a grama, de asfalto. As pedras eram de água, e a água era empedrada. E eu conversava sobre a vida com gaivotas listradas. Eu estava na Cidade dos Sonhos.
As minhas mãos. Tinha algo nelas que me intrigava, e eu não sabia explicar o que era, mas elas pareciam ter vida própria. Elas esculpiam as labaredas de fogo de um pequeno vulcão, onde eu pude aquecer um pouco meus pés cansados. Cansados de não tocar o chão.
Sensações. E a vida corria e escorria, cantava no regaço de uma cascata de areia cristalina. Eu escutava as margaridas cantando, e rebolava junto às árvores dançantes. Era estranho, mas como me diverti!
Chegava a hora de despertar. Senti comichões de novo. Uma vontade tão grande de rir, que comecei a chorar. Queria voltar àquela cidade mais vezes. Senti que meu corpo se materializara de novo.
É tudo tão engraçado. Tão engraçado. Tão engraçado.
Esfrego meus olhos. Pingos d'água me despertaram. A noite caía, e eu nem percebi. Já é hora de voltar para casa, para o mundo, para as velhas obrigações da Cidade de Concreto.