segunda-feira, 2 de março de 2009

Tem dia

Tem dia mesmo esquisito. Tem dia feio e bonito. Tem dia que a gente só fala. Tem dia que a gente se cala. Tem dia que para no tempo. Tem dia que nem tempo dá. Tem dia que ninguém sai da toca. Tem dia que ninguém se toca. Tem dia que é coisa de louco. Tem dia que juízo é pouco. Tem dia agitado e tranquilo. Tem dia traquina e ferino. Tem dia que a gente chora de rir. Tem dia que a gente só quer chorar. Tem dia que o cabelo tá ruim. Tem dia que a cara tá torta. Tem dia que fecham a porta, na nossa cara. Tem dia que eu tô sem cara, sem saco, sem pulso pra nada. Tem dia que eu dou jeito pra tudo. Tem dia que eu falo abobrinha. Tem dia que eu omito o mito, deixando escapar a verdade. Tem dia que o céu tá azul, tem dia que o céu tá estrelado. Tem dia de cara lavada, tem dia de cara amarrada. Tem dia que parece até noite. Tem noite que não tem mais fim. Tem dia de sol e de chuva. Tem dia de vento e de fogo. Tem dia? Ah, tem dia pra tudo nessa vida! E tem dia que não tem nada, não. Mas tem dia que tá com tudo! Tudo o que eu fiz, tudo o que eu vi, tudo o que eu devia de fazer. E, num tudo absoluto, a gente tricota os dias, a gente borda os meses, a gente remenda os anos e, assim, arremata uma vida. E ninguém diz o que quer, e o que quer diz o que não deve, e o que não deve, tampouco teme. Hoje o dia tava assim, meio cigano, meio franzino, meio sem-vergonha, meio tímido, meio careca, meio canastrão, meio sapeca, meio chorão. E não tinha mesmo rima, e eu rimei até o que não tinha. Tinha dia, tinha noite. Só que não tinha mais fim.

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