quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Deixa pra lá.

Novembro, novembro. O meu não foi lá tão doce. Mesmo assim, sou grata pelo sangue nas veias e pelo ar em meus pulmões.
A desenhar estrelinhas listradas nos cantos dos cadernos. Só faço isso quando não consigo me concentrar. Nos estudos, talvez? Certeza. A energia esmaecida, fraca, os ponteiros já beiram o empty, e eu, sem paciência nenhuma, prossigo a me arrastar por entre as folhas das provas e dos cadernos empinhocados no canto da sala, esquecidos no sofá. Já não consigo pensar por mim mesma, só pelos sintagmas, e verbos, e conjugações das línguas estrangeiras. E eu me sinto tão incrivelmente cansada, que posso afirmar que não sei, novamente, onde enfiei as benditas chaves.

Aliás, já falei como sou desorganizada? É um defeito grave, junto com o fato de eu ser distraída também, e tão pouco discreta em determinadas situações. Olha só que coisa, peguei mania de expôr literariamente meus fluxos de pensamento! É o cansaço, a carência, a dureza de estar "longe de casa há mais de uma semana". Há mais de mês, já.

Sabe o que eu queria? Parei esses dias para pensar absurdos pelos cantos, enquanto achava um tempinho para respirar um pouco, tentando sacudir o mundo de cima dos meus ombros. Eu queria ter uma vida extra só para ouvir todas as músicas e ler todos os livros do mundo! Mas, claro, música boa, música de verdade, o mesmo diria a respeito dos livros. São minhas duas grandes manias, e eu não me importaria de fugir do mundo real com mais freqüência (com trema; adoro o velho acordo ortográfico brasileiro!) do que o necessário. Não que eu não goste realmente da minha realidade: mas é que tudo nos livros é tão mais fácil, tão mais... lírico. Até a tristeza e as dificuldades têm um lirismo tão bonito, botam a gente a chorar feito marmanjo ressentido de dor de amor. Mas é tão bom sentir as lágrimas quentes jorrarem pelo rosto, estenderem-se para o queixo e, por fim, saltarem para a blusa, explodindo, evaporando. Sumindo. E tem a música também. Eu tenho isso comigo desde que nasci; não pedi pra ter música na garganta, mas Deus me deu esse presentão. No começo, gostava não. Era difícil. Mas é mais forte do que a gente pensa, esse grito na garganta, essa partitura vocal que me dá sufoco, se não canto, se não toco, se não mexo as mãos ao som das canções. É complicado, muito complicado. Mas tudo se ajeita de um jeito tão inexplicável, que a gente aprende a conviver com as peculiaridades dentro da gente. Dói um pouco, sim. Mas a gente amadurece, e assim é que é bom.

Ainda escrevo um livro. Música já escrevi até demais. Para fazer música, comigo é assim: eu tenho que esperar a canção me chamar. Ela me pega mexendo no violão, pronto. Meus lábios começam a mexer, as palavras começam a pingar deles direto para o papel. Não imagina a bangunça que é dentro da capa do meu violão! Bem lembrado. Acho que preciso arrumar aquela papelada.

Eu quero ir logo para casa, abraçar minha mãe e minha cachorra. Quero ver minha família, e reviver minha história de amor preferida com o amor da minha vida. Quero andar descalça e um pouco de capim à vista; um ar bucólico me faria bem. Quero ouvir uma voz que contraste com o meu soprano. Quero um pouco mais de poesia nessa melosidade desconexa toda.

Aliás, por que é que eu tô falando tudo isso?

Doida.

3 comentários:

Maricy Miki disse...

Cuti...

Li seu post... não sei se foi o meu dia que está assim... mas fiquei emocionada e deslumbrada com o seu texto! Lindíssimo! Suas palavras estão dispostas de tal forma, que não sei como, me fizeram emocionar, acredita?

Bjoss

kellen valeska disse...

Oie..
Lindo texto!
A saudade quando aperta nós faz escrever coisas lindas.
E sua palavras foram belas.
Pelo visto você stá precisando de descando e do colinho da mamãe.hehe

bjOo

Marcus Alencar disse...

Acho que já é a segunda vez que leio e adoro esse texto que você escreveu, ao que me parece, desencanada, sabe, apenas deixando os dedos se levarem pelo impulso póetico de dedilhar o que sente e pensa. Você é uma pessoa abençoada com o dom da música e da escrita e seus talentos fluem naturalmente como uma voz limpa e/ou um texto sinceramente bem escrito. As vezes, precisamos escrever assim, livres, sem nos apegarmos a temas e simplesmente nos permitir voar.

Parabéns
beijos