terça-feira, 29 de julho de 2008

Ô, gravidade!


Ô, gravidade,
me deixa voar!
Pregada na Terra
não posso ficar!

Entre sombras e razões
Entre medos, emoções
Entre coisas que me giram a cabeça

Entre ser, entre estar
Entre ir, entre ficar
Entre gente que não quero que me esqueça

Ô, gravidade,
me deixa sem ar!
O frio na barriga,
emoção de voar!

Entre nuvens e castelos
Galhos de marmelo
Entre coisas que vi na tv

Entre ócios e ocelos
Pregos e martelos
Entre gente que não sabe voar.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Vide bula


Tomar coca-cola dá celulite
Comer porcaria ataca a gastrite
Contato com gente dá conjuntivite
Contato com bicho ataca a bronquite
Música alta acaba em otite
Tome injeção contra poliomielite
O senhor presidente operou da bursite
Jogar futebol causa dor e artrite
Qualquer coisa-à-toa dá apendicite

Olha a dieta!
Olha o coração!
Olha o diabetes!
Olha a emoção!
Olha o remédio!
Olha o açúcar!
Olha a saúde!
Olha, olha!

E esse monte de prescrições me inflama os nervos.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Querência


Eu quero o espetáculo, o escândalo, o estrambólico, o mirabolante. Não quero o comum, não. Eu quero o bicho falante, a fuga da rotina, a lágrima feliz e o sorriso triste. Eu quero o mote, a glosa, a elegia, a lírica, a épica e a dramática. Eu quero comédia, romance, aventura, ação e suspense. Eu quero o sussuro gritado, o mistério encomendado, a surpresa frustrada. Eu quero que descubram quem sou, sem pensarem nada de mim. Eu quero tudo pra nós, não quero nada pra mim. Eu quero mostrar as garras que escondo dentro das luvas. Eu quero alçar vôo a dois centímetros do chão. Eu quero o diet, o light e a junkie food. Eu quero pegar carona e me mandar pra Hollywood. Eu quero Las Vegas, Kansas City, Rio de Janeiro e Macau. Eu quero a zona urbana, eu quero a zona rural. Eu quero cinco passos adiante, sem sair do lugar. Eu quero o beijo abraçado, o olhar semicerrado, o silêncio das palmas. Eu quero o conto de fadas, eu quero a crônica. Eu quero qualquer coisa que não se possa querer. Eu não quero menos que o impossível, nem mais do que se possa querer. E quem disse que não se pode querer o que nem todos têm a ousadia de fazê-lo.

Quem muito quer, nada tem. Por isso, me contento em querer o impossível. Afinal, o que é possível muita gente já quer, não é?

domingo, 20 de julho de 2008

Drogas e razões



Querem ver o elefante colorido, para não terem que ver as próprias vidas passarem diante dos seus olhos. Querem devaneios mirabolantes, antes que enlouqueçam com suas próprias realidades. Querem que a fumaça de um baseado esconda mágoas do passado e do presente, e problemas sem solução. Querem amigos para compartilhar o "cachimbo da paz", já que não têm paz nem pessoas com quem contar. Querem rir como loucos, pois suas vidas não têm graça nenhuma. Querem aspirar qualquer pó alucinógeno, já que não encontram espaço para respirar. Querem criar outra vida, já que esta não lhes serve para mais nada. Querem saber quem são, pois o mundo os rotula. Querem visões do futuro, já que seus presentes não lhes permitem que ultrapassem o horizonte. Querem amenizar a fome, já que moram nas ruas e não têm o que comer. Querem aliviar a dor, pois sofrem muito. Querem descobrir o que fazer, já que estão sem rumo. Querem criatividade, pois ela se escondeu. Querem a adrenalina e a loucura, pois precisam disso para se sentirem vivos. Querem coragem, pois as circunstâncias os acovardaram. Eles só querem querer, acreditar, viver, amar, ser felizes. Eles só querem encontrar o caminho, mas estão seguindo a estrada da destruição.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Xadrez


Linhas e linhas se cruzam
Quadriculados colorados
Meio grunge ou rock-rural

Tava na saia da menina
Na calça do rapaz
No tabuleiro

No chão do banheiro
Na estampa do caderno
Na unha do roqueiro

Na moda
Na rua
Na melodia

No jogo
Na lógica
Na inteligência

E no lendário gato xadrez.

domingo, 13 de julho de 2008

Sobre palhaços, anedotas e conversinhas aleatórias


- Do que você precisa para rir, moça bonita do laço de fita?

- De um pôr-de-sol. Um bombom e um saxofone, talvez. Um nariz de palhaço, tipo o seu. Oito voltas pela cidade. Um poodle saltitante e uma rosa vermelha. Ou talvez um balão de gás amarelo.

- Mas é só isso mesmo?

-Do que mais se precisa quando já se tem um sorriso no rosto?

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- Ha-hai! Ma'quem qué dinhêro? Hi-hi-hi...

- Eu!

- E pra quê você quer?

- Pra te pagar.

- Ma'pagá pra quê?

- Pra te comprar uma coisinha.

- Ma'que coisãm? Hi-hi-hi...

- Bom senso e originalidade. 'Cê tá precisando!

- Mas vai pra lá!!! Hi-hi-hi...

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- Oi, tudo bom?

- Vem cá, te conheço?

- Não sei, chuchu... Devo te conhecer de algum lugar...Você vem sempre aqui?

- Costumava. Mas, agora, a coisa tá baixando de nível. Acho que mereço um lugarzim melhor. 'Cençaí, tá? Beijo me liga.

- Mas o docinho de coco tem telefone?

- Tenho, o do hospício. Passa lá! Você vai se sentir em casa... panaca! ¬¬

sábado, 12 de julho de 2008

Diário do futuro (parte II)

Paramares, 38 de oytocjnjka de 2079

Oi, acabei de voltar da Babuska, a nossa terceira lua. Lá tem uma praia lunar gelada incrível! É lá que patinamos no gelo e fazemos esculturas de areia azul. Depois, fomos comer fantz (por favor, não me pergunte o que é!).

Por incrível que pareça, em Alpha há vegetação. No Antigo Mundo, achava-se que vegetação fosse algo exclusivamente terrestre, mas não é. Só que os vegetais são bem diferentes, mas possibilitam uma dieta rica em cálcio e selênio, além de fazer com que a agricultura seja a principal atividade do nosso planeta. Comemos muitas folhas azuis, como napoons e wjnks, além de raízes e frutas, como trokz, greenberries, glasnitz e applegrapes.

Quer conhecer meu cachorro? Quer dizer, não é bem um cachorro... é um bicho que tem aqui que se parece com um, apesar de ter três olhos e ser bípede, mas nós chamamos de cachorros, mesmo. O nome dele é Walley. Ele caça paracercárias como ninguém! Além disso, afugenta os insetos e as cucarachas. O problema é que, quando ele vê uma estrela cadente, ele acaba correndo atrás. Uma vez, ele quase saiu de Uir por causa de uma! Mas é só oferecer a ele um pedaço de pão de red weat com geléia de applegrapes, que ele se esquece da estrela.

Mamãe adora cozinhar. Ninguém mais vive de pílulas e comidas a vácuo desde que chegamos em Alpha 23. Água quente para cozinhar legumes é muito fácil de encontrar: aqui há vários gêiseres, e sempre há algum em ebulição. Só temos que tomar cuidado para não explodirem na nossa cara!

Papai é agricultor, como a maioria das pessoas aqui. Ele criou um projeto de engenharia agrícola que melhorou muito a colheita por aqui. Ninguém aqui trabalha por dinheiro; aliás, dinheiro não existe. Meu pai contou que dinheiro eram cédulas de papel que provocavam efeitos alucinógenos, podendo levar à destruição e à morte. Essa palavra aqui é palavrão, e eu bato na boca cada vez que eu falo. Foi por causa desse maldito dinheiro que a Terra foi destruída. Não era suficiente para as pessoas no Antigo Mundo encher a barriga e ser feliz simplesmente. Elas precisavam de mais e mais, e, por incrível que pareça, nunca estavam contentes. Por isso, aqui não existe dinheiro; a subsistência nos basta.

E assim a gente vai vivendo. Outro mundo, outro planeta. Deus deu pra gente uma chance de recomeçar; por isso só agora descobrimos Alpha 23. Queremos fazer de Alpha um lugar muito diferente do que foi a Terra, onde as plantas possam ter dignidade e os animais sejam admirados vivos. Onde o homem cuide das estrelas e da própria gravidade, preservando o ar e limpando os céus. Mesmo que eu não tenha conhecido a Terra, sei que não gostaria de viver no caos que ela estava. Eu até escuto o Universo às vezes, um som propagado no vácuo, coisas impossíveis e bolhas de ar. E tudo o que eu ouço é o som de uma nova chance, de uma esperança que sorri e diz: "Bem vindos à existência".

Acho que não tenho mais o que escrever. Eu sou só uma criança, ainda tenho muitas luas para viver. A existência está recomeçando. E eu vou ousar existir, para fazer tudo diferente dos meus antepassados. Um dia talvez eu volte, e escreva mais sobre o meu planeta.

Jacya-bye,

Harbie

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Diário do futuro (parte I)


Paramares, 37 de oytocjnjka de 2079

Oi, meu nome é Harbie, tenho 27 yatze (unidade de medida de tempo do meu planeta; equivale a cerca de 9 anos terrestres). Moro no planetóide Alpha 23, na galáxia Uir. Meus avós povoaram este planeta quando a Terra foi destruída numa guerra nuclear; eles só se salvaram porque estavam em uma missão espacial. Eles me contaram que deu pra ver da Lua a coisa toda explodir, e que choraram muito. Moraram por quase cinco anos numa estação espacial perto de Marte, até encontrarem o nosso planeta. Eles fizeram umas 16 expedições extragalácticas, mas só aqui, na Uir, encontraram um planeta em que não precisam usar aquele escafandro horroroso. Tirando a leve diferença de gravidade, este lugar é ótimo! E fica consideravelmente perto da extinta Terra; deve dar cerca de 0,67567889...x10¹¹ anos-luz de lá.

Ganhei este diário virtual da vovó. Na Terra, eles costumavam chamar de Palm, ou alguma coisa assim. Cabe na minha mão. E achei que seria bom escrever sobre minha vida aqui em Paramares, que é uma cidade-satélite da capital de Alpha, Juno.
Aqui, somos todos descendentes de russos e norte-americanos, pois eram os povos do Antigo Mundo (termo que usamos para nos referir à Terra, que Deus a tenha) que eram líderes tecnológicos na conquista do espaço. Por isso, falamos um idioma que é híbrido de inglês e russo, o moskov.

O clima aqui é meio frio, mas a proliferação de doenças infecciosas é quase nula. Os parasitas costumam ficar em suas tocas nos solstícios para se proteger das rajadas de vento. Acho que a única vez que fui mordido por uma paracercária (liga não, só tem esse bicho no meu planeta; se eu for explicar, complica) foi quando eu era bem pequeno, mesmo.

Bom, eu continuo mais tarde. Vou caçar estrelas-cadentes e depois jogar platuska (nem pergunte o que é! Só dá pra jogar no meu planeta por causa da gravidade específica).

Jacya-bye! (pronuncia-se iatziabai - interjeição moscoviana de despedida)

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Lego


"All in all, you're just another brick in the wall"

Tijolinhos coloridos que se encaixam uns nos outros. Até parece a vida, da maneira que se monta. Pode até não dar em nada, mas, no fim, tudo acaba se encaixando. Que engraçado.

E lá estava eu, no chão da sala, sem ter o que fazer, brincando de Lego. Peguei do balde, despejei tudo sobre o velho tapete felpudo lotado de ácaros, e comecei a montar. Vê se pode: eu, desse tamanho, executiva, 24, casada há três, sozinha em casa. Mas, afinal, por que não? Eu raramente costumo parar a vida pra alguma coisa, ainda mais pra brincar de Lego quando estou sozinha em casa, meu marido ainda não chegou e eu nem comecei a preparar o jantar ainda!

Ué, alguém abrindo a porta? Ah, deve ser ele.

"O que é isso?", já foi ele perguntando.
"Dã, Lego!", óbvio. "Tirei isso de cima do guarda-roupa. Nem sei por que trouxe isso pra cá quando a gente casou. É da minha infância!"
"Humm...". Riu. Achou graça, resolveu sentar-se lá também. E, agora, quem achava graça era eu.
"Não acredito que você sentou aqui pra brincar de Lego comigo; um homem desse tamanho, matemático, 27, casado ha três, num tapete velho" disse eu, rindo. Ele não respondeu. Limitou-se a sorrir e continuar ali, brincando, construindo qualquer coisa que não se parecia com nada.

As peças iam se complementando juntas, à medida que resolvíamos construir alguma coisa. Quando eu perdia as idéias, ele me ajudava com palpites, pecinhas novas ou comentários engraçados. E a gente riu tanto, e começamos a nos lembrar de nossa época de namoro. Quando vimos, tínhamos construído uma réplica do banco de praça no qual ele me pediu em namoro. Pra completar, pegamos dois bonequinhos e os pusemos ali. Acabamos rindo demais, e pedindo comida chinesa. Quando demos conta do horário, já era quase meia-noite. E tudo acabou sendo tão incrível, tão divertido, que acabamos repetindo a dose.

Agora, costumamos brincar de Lego nos momentos mais estressantes, aqueles assim, em que a gente faz de tudo pra consertar a vida e parece que nada se encaixa. Mas, na brincadeira, tudo acaba dando certo, tudo é arte e cor, principalmente quando um grande amor nos ajuda. Afinal, como vamos construir a vida real se não treinarmos primeiro em alguma coisa? Comece com Lego!


{a autora desse post não tem Lego em casa}

terça-feira, 8 de julho de 2008

15

Puella saltat.Cabelos curtos, batom vermelho, mulher que começa a despontar na menina. Idade em que ela descobriu o amor. Idade em que a flor da idade desabrochou. Ela seguia entre ruas e arvoredos, entre luas e segredos, a pele nua, as pálpebras grafitadas, um sorriso escondido no canto da boca, que ela, de vez em quando, arrancava detrás de um pirulito. Era só uma menina, mas, ao mesmo tempo, era bem mais do que isso.

Ela gostava de jeans e rock'n roll, de poesia e canção, de se pintar e se bordar. Ela nunca decorou uma receita de bolo que fosse, mas descobriu que a vida não seguia regras, prescrições ou unidades de medida. Ela queria ir pra qualquer lugar mais além do que a visão oferecia. Ela queria ir além do mundo.

Ria das próprias incompreensões, tentando entender do mesmo modo os incompreensíveis. Não era diferente das outras meninas, mas não era igual a nenhum outra. Ela queria tudo, sem ter nada a perder. Ela ria e chorava, ela amava e protestava. Ela queria mudar o mundo, mas lhe disseram que ela era muito jovem para isso.

Ainda era muito menina. Ainda não tinha deixado a face e os trejeitos pueris, por isso, às vezes não a levavam muito a sério. Tentara afungentar a criança que havia dentro dela, mas até hoje não conseguiu. Ela queria ser gente grande. E ela cresceu. E quase três anos se passaram.

Hoje, ela vive a sonhar com o tempo que se foi. Quer de volta os 15 anos incomparáveis, o tempo mais incrível da vida de uma garota. Apesar de tudo ter mudado, ela ainda é a mesma. Mas algo sempre muda na linha do tempo, e esse tempo nunca pára. Mas ela vai voltar. Ainda não sabe como, mas vai. Vai voltar aos 15. Porque ela ainda curte jeans e rock'n roll, poesia e canção, se pintar e se bordar, e até hoje não decorou uma receita de bolo. E sabe que, apesar de a vida não seguir regras, etc e tal, cartas marcadas podem dar certo. Ou não. Ela ainda tem muito o que aprender. E ela vai voltar, eu sei que vai voltar aos 15.

domingo, 6 de julho de 2008

Chocolate

Pedaços de chocolate dentro de um pote
Era só o que eu queria
Ver derreter entre meus lábios
Serenatas de Amor
Sonhos de Valsa
Confeitos coloridos
Espalhando doçura e poesia
Como num beijo
Como num doce momento
Numa cara melada de criança feliz

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Invasão do blog pela própria blogueira


O crédito é da gettyimages, mas eu não resisti e fiz uma montagenzinha... rsrs

Povo meu, posso ser um pouco menos literária hoje? Posso?! Eu posso apostar que ouvi um sim hehe... Faz tempo que eu não dialogo com os leitores do meu bloguinho. E eu esqueço de falar um pouco de mim!

Olha só: tô de férias! Nunca pensei que fosse precisar tanto delas! Tô amando a faculdade, mas é como está escrito na parede do diretório acadêmico: "Rapadura é doce, mas não é mole não!". Cheguei hoje à minha cidadela, cansada ao extremo, mas com tempo de sobra pra atualizar o blog (quase) todo dia por um mês!

Outra boa nova: agora, terei como postar com mais freqüência no jornalistateen, já que, finalmente, meu note chegou!

Tenho muita coisa planejada pra fazer nas férias, porém, nada mais concreto que dormir, rever as pessoas que amo e que não vejo há séculos, levar minha poodle de doze anos pra passear, ir ao circo (acho que vou amanhã!) e comer os bolinhos de chuva da minha avó. Mas, claro, não podia deixar de ler. Estou lendo Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, tradução de Lúcio Cardoso (sim, porque o nome do tradutor é MUITO importante!).

Bom, é isso. Fiquem de olho. A partir de segunda tem post novo (é, porque ninguém merece ficar em casa no fds. Especialmente nas férias!).

Beijo me liga (ou melhor: me comenta)!