sexta-feira, 13 de março de 2009

Sexta-feira. TREZE,

Estava sozinha no meu quarto. Acabava de dar meia-noite. Clássico ou clichê, a lua estava cheia. Meia-noite de lua cheia de uma sexta-feira. Treze. A janela estava aberta, por onde entrava uma garoinha xoxa, inofensiva, que ia pousar no carpete lilás. O edredom cobria meu rosto, protegendo-o do irritante luar que me cortava olhos. Nos ouvidos, Nightwish, no corpo, uma camiseta velha do Che, meio furada, a gola cortada. Só. Ah, e meias 3/4 também, que eu empinhoquei dos joelhos para os calcanhares. Meu cabelo estava péssimo, resolvi prendê-lo com um elástico. Estava sem sono, não achava posição na cama, nem naqueles pensamentos desconfortáveis, ou tão-somente intrigantes, sobre a data em questão.

Supersticiosa, eu? Cética, até a última raiz do cabelo. Não que eu não tenha fé. Mas a fé não é uma ciência exata. Só não levo bobagens em consideração.

Por quê, deveria?

O problema não era a data. Quer dizer, era a data, mas não o senso comum. Aliás, não sei bem se era mesmo um "problema". Só comecei a me lembrar das doze sextas-feiras treze de minha vida, e esta daqui estava sendo a décima terceira. E um arrepio me correu pela espinha: eu só tenho dezesseis anos, dos quais já vivi treze sextas-feiras treze!

Ouvi um barulho na janela. Era só o Black Sabbath, meu gato preto, aquele malandro de rapina.

Vivi um total clichê, do arrepio e da lua até minha roupa. Clichê e paradoxo, ainda por cima. Lá estava eu, a última das capitalistas, vestindo uma cara de Che Guevara furada e desbotada por cima da pele nua, louca para me entupir de coca e cheeseburguer até não poder mais. Acho que eu meio que inventei tudo isso. Talvez quisesse fugir. Fugir do vício das semanas e dos cadernos rabiscados. Ou só quisesse um cabelo novo, criar coragem para lavar o rosto, ou que aquele cara finalmente me ligasse. Ou, sei lá, podia parar de chover, né?

Virei-me de bruços, libertando meu rosto do edredom quente. Suspirei. Lá vinha Black Sabbath entrelaçar-se em minhas pernas. É como gosta de dormir quando chove e ele, muito a contragosto, fica em casa, aborrecido pela noitada promissora que se foi por água abaixo. Ronronou enjoado, ao que respondi com um bocejo tedioso. Vida, escola, carreiras, pressão. Ah, e garotos! Dezesseis anos numa sexta-feira treze, e nenhum raio caíra na minha cabeça. De qualquer modo, estiquei o braço, apanhei a agenda na cabeceira e circulei a data. Talvez porque todas as outras doze tivessem me marcado de alguma forma. Algumas me deixaram triste, outras me fizeram rir, outras, querer sumir. Mas todas marcaram mudanças de estações em minha vida. Teve a da primeira menstruação, a do show do Satriani, a que eu cortei demais meu cabelo, odiei e vim andando e chorando por cinco quilômetros até chegar em casa, a da cicatriz de bicicleta, a que eu ganhei uma boneca de porcelana, a da festinha que entrou para a história... e tem a que eu nasci. Mas, desta vez, a coisa era diferente: era a primeira vez em que as ilustres datas coincidiam.

Cadê a lua? Ah, é que fechei a janela. Não estou para lirismos hoje, só para convenções - a lua está onde deve estar e sempre estará. Cheia a semana inteira, até cansar e sumir do mapa por uns tempos, magrinha, delineada, pudica, despercebida. Daqui a pouco, o sol aparece e ela é esquecida por metade do dia. Clichês que ninguém nota, vividos sem questionamentos, já que o que importa é a plenitude, e não a incompletude, tão mais casual que a primeira. E meu dia apenas despontava, madrugada adentro, incompleto, aura de mistério e magia. Aguardava pelo que viesse, sem grande entusiasmo, mas com leve e momentânea curiosidade. Quem sabe o cara não liga, a gente não briga, ou alguém me faz bolo? Talvez eu continue em casa, com Black Sabbath a rogar pragas felinas contra o mau tempo, ou resolva simplesmente lavar o pobre do Che, que já faz uma semana que não desgruda de mim. Ou, ainda, eu passe por baixo de escadas e por dentro de encruzilhadas, rindo e cantando "parabéns" para mim mesma.

Não, isso não seria nada convencional. Anyway, vou anotar isso.

Feliz sexta-feira treze, e me deseje sorte!

2 comentários:

Fernanda Zanol. disse...

oi!
adorei seu blog!!!
se quiser, passa lá no meu tbm! ;)

ah! boa sorte! rsrsrs

bjooo

Sam disse...

A-do-rei o nome do gato. Seria muito bizarro dizer que a minha iguana se chama Billie Joe?

Não acredito muito em sexta-feira treze. Mas em treze sextas-feiras treze eu acreditaria, com certeza.

beijos