Dia nublado, nuvens carregadas. Asfalto. Calçadas. Casas. Muros. Grades. Postes. Vidas. Histórias. Esta é a rua América do Sul.
Oito passos adiante, um aceno ao velho verdureiro ("'Bas tarde!" - exclamava). Meninas fofocando no muro (será que não tem o que fazer?!). Acho que escutei alguém fechando a janela. Muxoxo. Bah, bobagem!
Casa da Mãe Joana. Um beijo estralado no portão. Pega-pega, roda-pião. "Ah, muleque!", grita a dona Genoveva para o netinho peralta. "Pamonha, pamonha, pamonha".
Droga, desamarrei os cadarços. Vou ter que agachar. Ué, quem é aquele cara? Parece que nunca o vi aqui na rua... Bonitinho, hum... Nossa, o que a Ju tá fazendo ali com ele?
Pronto, acho que, agora, não desamarra mais, dei nó cego. Que cheiro de pão... Vou dar uma passadinha no Empório, ver o que tem de bom. Sonho de goiaba!! Ah, droga, hoje é segunda, dieta. Por que será que dieta sempre começa na segunda?
Olha lá, o Guga passou de carro! Será verdade que ele passou as férias na Índia? Espero que tenha cortado aquele cabelo... Aliás, preciso dar um trato no meu. Será que arrisco a tintura? Hum, melhor não.
Ué, será que tá garoando? Parece que senti uns pinguinhos... Ih, tá mesmo. Vou ter que dar no pé. Será que chego em casa a tempo? Peraí, por que estou me fazendo tantas perguntas? Até parece que nem conheço esta rua! Ou que esta rua não é a mesma de ontem, nem será a de amanhã. Tanta coisa acontece por aqui... Será que a vida acontece? Sou eu quem saiu do lugar, ou é a rua que penetrou na minha carne?
Eu devia ser filósofa, ou analista comportamental. Imagine só, agora deu pra ficar fazendo auto-análise! Sossega, Catarina, sossega! Melhor correr, que a chuva tá engrossando!