Miley Cyrus: símbolo da juventude clichê
Outro dia, no Orkut, vi uma comunidade de fofocas de um certo grupinho cuja existência eu ignorava. Resolvi dar uma olhada no fórum, para ver o que é que as pessoas falam nesse tipo de comunidade. Claro que é mal da vida dos outros. E, em um dos tópicos, fiquei abismada com certos comentários da potencial gossip girl de araque - uma espécie de perfil fake que divulgava os "bafões". Lá, dizia algo como "fulano ficou com uma impop desconhecida", ou "siclana estava andando com os pops o tempo todo, e ficou bêbada", ou "estiveram no shopping/na festa hoje: X, Y, Z...". Pelo amor de Deus! Pop?! Impop?! O que é isso? Estão classificando pessoas porque elas não se encaixam nos padrões que eles - burguesinhos pobres e de meia tigela, que recebem dinheirinho dos pais para aprontar nos fins de semana, agindo como se a roupa, ou o beijo, ou o escândalo de X fosse melhor/pior/maior/inferior ao esperado? Aliás, esperado por quem? Por eles? Grande porcaria! Quem são eles? Jovens sem cérebro! Por acaso fizeram algo de útil nos últimos meses sem ser ouvir Hannah Montana, tirar notas medianas, encher a cara, beijar uns zés-ruelas e moer dinheiro no shopping? Por favor! Que moral, e que julgamento eles tem o direito de fazer?!
E fiquei seriamente preocupada com nossos tempos. Sou tão jovem quanto eles, e é isso o que me preocupa! Ninguém mais monta blog para escrever o que pensa, ninguém mais escreve para mudar o mundo! A web não é mais modo de conectar o mundo inteiro - ela tornou-se ferramenta de exclusão! E a culpa não é da mídia, coitada. O papel dela não é só manipular, já que também tem muita coisa boa por lá. Eu sei que, na maioria das vezes, ela manipula, e muito. Mas é só quem se deixa manipular. É o que está acontecendo com os jovens de hoje: como a maioria não tem cérebro, procuram desesperadamente por um. Como não encontram lá muito o que sirva, preferem uma formulinha mais pronta. Isso é muito, muito mais cômodo. E ficam lá, se achando muito espertos.
Olha, eu sei que metade de vocês não vai ler metade disso aqui, e que eu não sou a primeira, nem vou ser a última a dizer todas essas coisas clichê sobre a nossa juventude clichê, geração coca-cola, chame como quiser. Mas não, já não vejo jovens querendo mudar o mundo. Aliás, essa história já virou conversa. Hoje em dia, jovem acredita em tudo o que vê na televisão, ou mesmo, no computador. Vão engolindo a maçaroca e deglutindo-a, sem sabor, sem saber a causa da própria rebeldia. Como se soubessem (e vivessem) a loucura que é viver. Como, se vivem iguais uns aos outros? Acham que encrenca é adrenalina. Se preocupam mais com o estilo de "parecer" do que com o de "ser". Curtem a bandinha do momento, que se diz alternativa mas, na verdade, é comercial e igual a todas as outras. Usam o que todos usam, ouvem o que todos ouvem, copiam gírias anglófonas, figem que falam inglês, quando tudo o que sabem são frases soltas de letras de música do novo fenômeno teen do momento. Alguns até tentam mostrar o quanto são cult, ouvindo música antiga - ouvindo sem sentir, por pura pose. Querem ser vistos pelo ângulo das câmeras digitais, e não pelos olhos de quem procura uma resposta. Querem provar para o mundo o quanto são felizes quando, na verdade, são vazios. A rebeldia virou festa, novamente. O que é viver com intensidade? Qual é a necessidade de se mostrar para o mundo? Mostrar quem você é, ou mostrar a etiqueta da sua roupa? Mostrar uma nova realidade, ou mostrar o quanto você é cool no álbum do Orkut? Mostrar moda, ou, puramente, modismo? Ouvir música ou viver a música? Isso é fugir da realidade, sem mudá-la. O conceito de "burguês" já virou clichê, mas, para essa "juventude clichê", é perfeitamente aplicável. Porque é muito mais cômodo ser igual ao que você vê na mídia, já que, por lá, o "outro lado" é algo idealizado e distante da nossa realidade. Gente pobre que se acha burguesa. Não tô falando de pobre de dinheiro, não. É pobre de espírito. É gente que acha que tirar foto com cara de drogado, usar t-shirt, calça skinny e cabelo repicado, ouvir músicas cujas letras não têm conteúdo (ou das quais nem sabem o significado) e "se jogar" por aí é o suficiente para living la vida loca.
Pelo amor de Deus, um pouquinho de cérebro e originalidade!!!
Não gosto de publicar textos grandes no blog, mas eu precisava desabafar. Sim, eu estou revoltada hoje. Mas, se eu não ficar, quem é que vai?