quarta-feira, 15 de abril de 2009

Neologia sentimental

Esta redação é uma tarefa da faculdade! ^^



Eu era tão sozinho, que mal podia se expressar. Grilhões o prendiam ali, e Eu era sujeito passivo, mas impaciente, a ouvir as vozes, e falas, e onomatopeias do lado de fora.



Até que, um dia, Você o encontrou, tornando-se palavra-chave de todas as emoções, sentidos e expressões: as idiomáticas, as com sotaque, as dicionarizadas, as neológicas. Solidarizou-se com o estado em que Eu se encontrava, resolvendo libertá-lo e levá-lo de volta à linguagem.



Sem explicação, Você apoderou-se do discurso, e Eu, lírico e subjetivo, assujeitava-se a todos os seus gestos, índices e sinais. E os vocabulários entrelaçaram-se, planejando ficar juntos por todos os tempos verbais. Já conheciam todos os sinais e adjetivos um do outro, e falavam a mesma língua, cada um à sua maneira.



Eu se perguntava se Você o amava. Aquela palavra estava, agora, distante, ilegível, borrada. Seguiam normas tão diferentes - Eu, culto; Você, informal. Discutiam muito, pois Eu teimava em fechar-se no plano do conteúdo, enquanto Você contentava-se com o plano da expressão.



E Eu e Você tornaram-se palavras isoladas. Foi quando Eu conheceu Ela, a palavruda, aquela obscenidade sem tamanho. Eu iludiu-se, atravessou-a sem contexto. Não era interação – era só uma onomatopeiazinha de nada, coisa de brevíssimo tempo verbal.



Mas Eu não encontrou sentido, voltando a seus grilhões mudos. Era, agora, apenas fonema – era som gutural, não mais palavra.



Foi então que Eu percebeu o quanto precisava de Você. Era mais que interação – era algo intraduzível, além da metalíngua. Eu percebeu que Você o ensinara a agir e a questionar, a ser mais Eu em qualquer contexto.



Vendo o quanto expressara-se mal, Eu correu para os traços de Você. Entraram em um novo acordo ortográfico e apagaram todas as vírgulas do pretérito imperfeito. Você o envolveu, as línguas fundiram-se e, ali mesmo, nas linhas do caderno, Eu e Você conjugaram-se.



Um tempo depois, Eu e Você tiveram uma surpresa.



- Acho que inventamos uma palavrinha – disse Você, os traços ao redor da caligrafia redondinha.



Eu abriu um sorriso, tremendo até os apêndices.



E a palavra se chamaria Amor.

7 comentários:

Sam disse...

Lindo, simplesmente. Adorei as analogias!

beijos

- disse...

Não vou falar do texto. Mas sim do blog. Eu acho o seu blog muito mara. Descobri seu blog na Capricho, no texto If I were a boy, e, desde então acompanho. Seu blog é muito bonito, parabéns :D

- disse...

Não vou falar do seu texto, mas sim do blog. Conheci o seu blog na Capricho, no texto If I were a boy. Desde então acompanho. Acho o seu blog muito bonito e gosto como você escreve. Parabéns :D

Victória disse...

querida o seu blog tá super lindo!
adorei o texto!
é a primeira vez que vim aqui e já adorei! *.*'
tem um meme pra voce lá no meu blog. dps voce vai lá pegar, ok? ;)
beiiijos. :*

Flá Costa * disse...

Antes de tudo quero dizer que geralmente odeio PlayLists em blogs. Elas me irritam. Mas a sua está uma delícia, a primeira música é perfeita. Acabei me concentrando mais nela do que no texto. Vou ler de novo! rs

Beijinho

Michelle Ribeiro disse...

Primeira vez que venho e certamente não será a última. Adorei a criatividade do texto. Parabéns!

beijos

Sam disse...

Pois é, Luly! Senti que era hora de mudar ^^
(Sou meio inconstante com blogs. Já é o terceiro nome que dou ao meu :X)

;*