sábado, 25 de abril de 2009

Escrevi, mas não mandei



"Londres, 21 de setembro de 1978.

Peter, você vai me fazer tanta falta.

Mesmo que eu nunca tenha tido coragem de falar com você direito. Mesmo que você tenha sido, até hoje, o melhor amigo que eu já tive. Mesmo que você me visse como um "cara de saia", como você dizia. Mesmo que eu te visse como o homem da minha vida.

Tá bom, eu só tenho quatorze anos. Minha mãe disse que ia passar, que essas coisas acontecem, e são complicadas, mesmo. Mas é que, quando eu olhava pra você, me dava um medo, e um frio na barriga. E você nunca me deu um beijo. Um beijo! Como eu sonhei com isso. Como eu sonho! Mas acho melhor não sonhar mais.

A verdade é que eu tive medo. Medo de não dar em nada. Medo de dizer o quanto eu gosto de quando a gente come pizza, largados no jardim, até duas, três da manhã, falando besteira e dando risada. Medo de trombar com você na escola e ficar vermelha. Medo de continuar sentando com você na aula de biologia, e você descobrir tudo. Medo de você descobrir que eu choro antes de dormir, por sua causa. Medo de contar o único segredo que você ainda não sabe sobre mim: eu te amo, Peter.

As coisas se vão tão rápido, mas a gente não. A gente ficou pra sempre ali, em algum lugar incerto, e eu sabia que dali não sairia nunca mais. Eu não dormi mais, pra não ter que sonhar com o passado, com o modo com que você me olhava, com o seu modo de torcer as mãos enquanto falava, com a sua respiração em meus ouvidos, com aquele seu sorriso torto e sem graça. Se sonhasse com o futuro que planejei, seria pior, pior, pior ainda.

Mas as coisas passam. E, se não passarem, também, eu não me importo. Eu sei que não vai passar, mas a gente se acostuma com dores crônicas e agudas no fundo da alma. E, pra falar a verdade, não tive coragem de jogar aquela caixa fora de jeito nenhum. É uma caixa enorme, onde eu guardo todos os papeis de bombom que você me deu, os bilhetinhos da aula e o LP do ABBA. Isso eu nunca contei pra você.

Mesmo que você esteja indo embora amanhã, pro outro lado da Inglaterra, e que tudo não tenha passado de uma ilusão, me sinto meio feliz por sofrer agora, já que, pelo menos, eu vivi. Eu amei. E eu ainda amo, e vou amar pra sempre. Não sei se a vida quis assim, mas talvez tenha sido melhor. A gente vai tentando viver de novo aos poucos, passo por passo. E, mesmo que a gente nunca mais se veja de novo, eu vou sempre me lembrar de você, de como você me mostrou o amor e a amizade.

Acho mesmo é que você nunca vai encontrar esta carta. Talvez eu nunca a mande. Não quero te confundir, nem interferir na sua escolha. Preciso me conformar, embora não queira e saiba que não conseguirei.

A vida disse que acabou. Eu digo que não. Amores nunca acabam, são interrompidos. Basta você me dizer que sim, pela primeira vez. Enquanto isso, continuo seguindo minha vida. E você segue comigo, em tudo o que eu faço, em tudo o que eu vivo, e em toda a força que eu tenho de te amar pra sempre. Apesar de tudo, você vai ser sempre o melhor amigo que eu já tive. E eu espero que você seja, mesmo, muito, muito feliz nessa tua nova vida.

Sempre tua,


Janis."

Achei essa carta no fundo da gaveta. Me matei de rir! Quanta ilusão a gente tem quando temos quatorze anos! Mas que bobagem! Ainda bem que eu nunca enviei esta carta, imaginem só!














E não é que, no fim, eu acabei casando com ele?!

Ouvindo: I will be - Avril Lavigne

2 comentários:

Jéssica C. disse...

HAHA. Eu também acho graça das besteiras que eu escrevia quando era mais nova. É muito clichê isso. Mas, meu, você é da Inglaterra! Putz! Sou doida pra conhecer a Inglaterra!

Hyanara disse...

ai que linduuu....
qm nunca escreveu e nao mandou....

bjuuu!!
tenha um otimo fds!!